Economia

PNUD: Sul e Sudeste lideram Índice de Valores Humanos

Região Norte tem as piores vivências com seu sistema de saúde, com o indicador dessa área de 0,31, ou 0,14 ponto inferior à média nacional

O coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasileiro 2010, Flávio Comim, apresenta o Índice de Valores Humanos (IVH) (Wilson Dias/ABr)

O coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasileiro 2010, Flávio Comim, apresenta o Índice de Valores Humanos (IVH) (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h46.

São Paulo - Além de figurarem como as que têm o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), as regiões Sul e Sudeste apresentam o Índice de Valores Humanos (IVH) mais elevado do País, novo indicador que busca relacionar as vivências boas e ruins das pessoas nas áreas de saúde, da educação e do trabalho.

As duas regiões apresentaram IVH de 0,62, de uma escala que vai de zero (o mais baixo) a um (mais alto). De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), isso significa que os brasileiros do Sul e do Sudeste passaram no último ano por mais experiências positivas do que negativas, em relação à população das outras regiões do País.

O IVH faz parte do terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasil 2009/2010 do PNUD, lançado hoje à tarde, em Brasília. O assunto do documento - "valores" - foi definido a partir das respostas de questionários enviados a 500 mil pessoas em todo o País durante a campanha Brasil Ponto a Ponto.

Todas responderam à questão "O que deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade?" O Pnud, então, contratou pesquisa do Instituto Ibope para identificar os valores que os brasileiros julgam mais importantes, cujo resultado foi saúde, conhecimento e padrão de vida.

O novo índice coloca a Região Norte como a pior em termos de experiências, com índice de 0,50, em grande parte motivado pelo mau desempenho na composição do índice IVH-S, relativo ao setor de saúde. O Centro-Oeste (0,58) e o Nordeste (0,56) ficaram na terceira e quarta posições, respectivamente.

De acordo com o relatório do PNUD, a população da Região Norte tem as piores vivências com seu sistema de saúde, com o indicador dessa área de 0,31, ou 0,14 ponto inferior à média nacional. O indicador reflete a opinião das pessoas em relação à demora no atendimento médico - seja ele público ou particular -, à linguagem utilizada pelos profissionais de saúde e ao interesse demonstrado por eles na visão do paciente.

A pesquisa mostra que 66,9% dos entrevistados da Região Norte consideram o atendimento médico "demorado", enquanto no Sudeste esse porcentual cai para 43,1%. Em relação à linguagem utilizada pela equipe médica a diferença é mais evidente: 74,9% das pessoas do Sudeste consideram a linguagem utilizada como de "fácil" ou "razoável" compreensão; já no Norte, essa classificação cai para 38,1%.

Por último, a atenção dada aos pacientes é maior no Sudeste que no Norte, segundo os próprios usuários dos sistemas de saúde: para 29,1% dos moradores do Sudeste o profissional médico demonstrou "muito interesse" pelo caso do paciente, enquanto no Norte esse modo de ver foi compartilhado por apenas 14,5%.
 


Trabalho

Na composição da dimensão de trabalho (IVH-T), o destaque ficou para a Região Sul, com a melhor relação entre vivências de prazer e sofrimento no ambiente profissional. A média de vivências de prazer e de sofrimento nos Estados do Sul ficou em 0,84, pouco acima do Sudeste (0,80).

Apesar dos entrevistados do Sudeste terem apresentado maiores experiências de prazer no trabalho, como a realização profissional e a liberdade de expressão, a Região Sul teve uma média maior em razão de relatar menos experiências de sofrimento - por exemplo, esgotamento emocional e falta de reconhecimento.

Neste módulo, o Centro-Oeste teve o pior desempenho (0,68). Apesar das vivências de prazer só ficarem atrás do Sul e do Sudeste, a região foi a que mais apresentou, entre todas, experiências de sofrimento no trabalho. Em penúltimo ficou a Região Norte, com 0,74 e, em seguida, o Nordeste, com 0,78. A média nacional do IVH-T é de 0,79.

O PNUD destaca a importância dessa medição classificando o trabalho como "problema da sociedade moderna". Para o órgão, o trabalho é um elemento de inclusão social e de ampliação da cidadania no âmbito das políticas públicas. Por isso, "o conflito aparece quando o sujeito confronta o que deseja ser e fazer com aquilo que ele, por razões muitas vezes ignoradas, efetivamente escolheu realizar como opção profissional". "Amplia-se (o conflito) ao comparar a posição que (o profissional) ocupa ou o papel que desempenha com aquilo que imaginava ou idealizava quando escolheu a atividade. E se torna ainda mais saliente quando as figuras que ocupam as posições de reconhecedoras (chefias, pares, clientes, público) não atendem às expectativas", diz o documento.

Educação

A educação foi a que apresentou maior equilíbrio no IVH entre as cinco regiões brasileiras, com exceção do Norte. Para a maior parte dos entrevistados dessa região (40,4%), o mais importante a ser ensinado às crianças são conhecimentos para se obter um bom emprego.

Nas demais regiões do País, porém, a resposta mais frequente foram os conhecimentos para se ser um "bom cidadão" (36,2%). Nesse quesito, o Norte do País foi a única região que apresentou uma diferença superior a 0,1 ponto em relação à média brasileira, de 0,54: os Estados nortistas ficaram com o IVH-E em 0,47.

"Os mecanismos através dos quais esse processo (de melhoria da qualidade do aprendizado) se desenvolve passam por um maior engajamento moral de pais, professores e diretores, um repensar da escola enquanto espaço de convivência e o estímulo à formação de valores públicos e valores de vida que façam da experiência escolar não somente um mecanismo para a criação de oportunidades iguais na vida - e portanto, para a justiça social - mas para a realização do que há de melhor no ser humano", afirma o relatório do PNUD. 

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