Vice-presidente da República e presidente do PMDB Michel Temer durante evento do partido em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de abril de 2016 às 18h05.
São Paulo - A decisão da Câmara dos Deputados de prosseguir com o impeachment coloca Michel Temer e seu PMDB (Partido da Democracia Brasileira) cada vez mais próximos do poder.
De acordo com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a crise é tão brutal que a própria "ideia do novo" já tem a capacidade de movimentar o mercado e abrir uma janela de oportunidade para reformas:
"O cenário base já era de impeachment há algum tempo e estaria significativamente pior se a presidente tivesse ganho a votação. Estamos passando pela pior recessão da história do país, então qualquer coisa nova se torna imediatamente positiva e abre um espaço de confiança. Podemos evitar uma nova recessão em 2017, o que não é pouca coisa, dado o estrago".
A dúvida é o que, exatamente, o PMDB fará para mudar a trajetória econômica. Os analistas olham para a montagem da equipe e esperam foco na aprovação de um ajuste fiscal que evite pelo menos um quarto ano seguido de déficit primário em 2017.
Sérgio Vale vê outras possibilidades mais pontuais, como um novo modelo de concessões mais aberto para empresas estrangeiras, além de mudanças na Petrobras e na Eletrobras e um refortalecimento das agências reguladores.
Em outubro do ano passado, o PMDB lançou o documento "A "Ponte para o Futuro", um balão de ensaio para esta nova postura.
Lá estão a fixação de idade mínima para aposentadoria e o fim das vinculações constitucionais para Saúde e Educação e das indexações no Orçamento.
Agora, resta saber até onde vai a capacidade do partido de pensar o país e de assumir com a sociedade os custos e benefícios de liderar abertamente:
"Isso abre um caminhão de chances se o PMDB tiver mesmo a ideia de ser um formulador de políticas econômicas, como o PSDB na era FHC e o PT no início do Lula. O PMDB vai precisar ser mais pensador do país, o que nunca foi - tirando na época do Sarney, quando não deu muito certo. Não pode ser nesse momento o PMDB que sempre foi, menos profissional e mais fisiológico".
Contra o PMDB estaria a falta de legitimidade após um processo de impeachment muito mais problemático do que o de Collor (além do enfrentamento com uma oposição de esquerda nas ruas).
O que o PMDB tem a seu favor, além de ser o maior partido do Congresso, é a reconhecida habilidade de negociação política de Michel Temer
"A Dilma e sua equipe torceram o nariz para o Congresso nos últimos 5 anos e nem agora na auge da crise negociaram. O Temer, pelo contrário, sabe fazer isso de olhos fechados, e parte da vitória deles ontem tem a ver com isso."