Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) (Germano Lüders/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 3 de julho de 2024 às 10h35.
Última atualização em 3 de julho de 2024 às 10h37.
O Plano Real e a adoção do regime de metas para a inflação foram grandes marcos que estabilizaram a economia brasileira e permitiram que muitas coisas boas pudessem acontecer no país. "O que era escassez se tornou abundância", diz o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em entrevista exclusiva à EXAME sobre os 30 anos da reforma das reformas.
"O Plano Real e a adoção do regime de metas para a inflação foram grandes marcos que estabilizaram a economia e permitiram que muitas coisas boas pudessem acontecer no país" — Roberto Campos Neto
Apesar dos diversos avanços econômicos e sociais conquistados com o Plano Real, Campos Neto disse que a ausência de uma âncora fiscal de longo prazo é o principal desafio para que o Brasil alcance crescimento e desenvolvimento sustentável.
Segundo ele, essa batalha é comum em todos os governos e não é tarefa de um único governante."Aos longos dos últimos 20 anos, onde tivemos mais dificuldade, de fato, foi em produzir uma âncora fiscal que tivesse credibilidade por um período mais prolongado. Tivemos várias tentativas de plano fiscal. Em alguns momentos se fazia primário, mas elevando o gasto. Era um primário porque a receita estava aumentando muito. Aí quando a receita caiu se mostrou que o primário não era sustentável. Depois a gente fez micro tentativas com planos de curto prazo. Depois, o teto de gastos, e depois, o arcabouço fiscal", afirmou.
Segundo o presidente do BC, a âncora fiscal é importante para garantir credibilidade de longo prazo, o que atrairá investimentos para o país e criará um ambiente estável para que empresários desenvolvam os negócios com geração de emprego e mais renda.
"Hoje estamos, de novo, em uma situação em que o mercado questiona a credibilidade da âncora fiscal. Estamos vendo isso no nosso dia a dia", disse. "Nessa parte fiscal não conseguimos atingir coletivamente, ao longo da história, uma forma de endereçar essa questão para que conquistássemos credibilidade de longo prazo."
Outro desdobramento institucional que merece ser comemorado e aprimorado, para Campos Neto, é a autonomia do BC.
Segundo ele, a autonomia é positiva porque o ciclo de política monetária tem duração e visibilidade diferentes do ciclo político.
"Meu avô, quando desenhou o Banco Central lá atrás, com autonomia, tinha uma proposta de autonomia muito maior. A gente tem autonomia operacional. A autonomia se divide em três partes. Operacional, administrativa e financeira", disse, em referência a Roberto Campos, economista e ex-deputado federal.
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Entre os entrevistados estão: