Economia

Plano Real, 30 anos: Persio Arida e a falta de visão de futuro para o Brasil

Para o economista, um dos formuladores do programa de estabilização econômica, a principal missão do brasileiro é resistir contra visões populistas de mais gastos públicos nas eleições de 2026

 (Germano Lüders /Exame)

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Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 4 de julho de 2024 às 08h18.

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O economista Persio Arida teve papel fundamental no Plano Real, ao propor, ainda em 1984, 10 anos antes do lançamento da nova moeda, um plano de estabilização econômica, em conjunto com André Lara Resende, conhecido como Larida. Esse documento foi a base da reforma das reformas. Passados 30 anos do controle da inflação, Arida afirmou, em entrevista exclusiva à EXAME, que o país mudou para melhor em diversos aspecto, mas ainda flerta com o populismo político, o populismo fiscal e com a falta de visão de futuro.

“O Brasil mudou muito. O fato de ter estabilidade da moeda possibilitou mudanças enormes. O Brasil tem hoje vários desafios. Mas eu diria que o desafio maior é a visão de futuro. Como tem que ser o Brasil que a gente quer daqui a 10 anos e começa a construir 'de lá para cá'. Não adianta falar que tudo tem que ser melhor. É claro que tem que ter melhor infraestrutura, mais igualdade, melhor educação, melhor saúde, mais turismo. Tudo tem que melhorar”, disse.

Segundo Arida, o Brasil desconhece suas vocações e não investe sabendo onde quer chegar.

“Sem visão de futuro fica difícil trabalhar no presente. É o Brasil que ainda não encontrou a forma do futuro. O Brasil é muito diferente do que era e muito melhor do que era. E corre, hoje, o risco do populismo, da ideia que gastar é bom e quanto mais gastar é melhor. E vão aumentar a taxação para evitar que apareça um déficit. Essa trajetória não é boa porque tem limites de quanto é possível taxar”, afirmou.

Tripé macroeconômico está manco, diz Arida

Para Arida, o tripé macroeconômico brasileiro, que consiste em controle da inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal, está manco.

“O que aconteceu depois é que o tripé ficou manco. O tripé tinha três pernas. Uma perna é o Banco Central fixando a taxa de juros para manter a inflação baixa, outra perna é o câmbio flutuante e a terceira perna é o superávit fiscal. Essa terceira perna começou a balançar no final do segundo mandato do Lula e hoje a gente vê que o tripé está manco e não tem o superávit fiscal”, disse.

O Plano Real, segundo o economista, virou um bem público e quem ameaçar a estabilidade da moeda será punido politicamente. Para ele, a economia brasileira tem dinamismo próprio, que convive com profundas exclusões e desigualdades. Entretanto, há dinâmica própria.

“Você vê a agricultura. É a grande força dinâmica do Brasil hoje, que sustenta o PIB e se desenvolveu pela livre iniciativa dos agricultores do Sul, que foram com seus tratores e famílias para o cerrado. E não teve intervenção governamental nenhuma. Quando teve intervenção governamental, a agricultura sofreu”, afirmou.

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Plano Real, 30 anos — série documental

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Arida foi entrevistado para a série documental "Plano Real, 30 anos", um projeto audiovisual da EXAME que ouviu alguns dos principais economistas, executivos e banqueiros do Brasil.

Entre os entrevistados estão:

  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e fundador e chairman da Gávea Investimentos
  • Carlos Vieira, presidente da Caixa
  • Carolina Barros, diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central
  • Edmar Bacha, economista e sócio-fundador e diretor da Casa das Garças
  • Elena Landau, ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-presidente do Conselho de Administração da Eletrobras
  • Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo
  • Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria
  • Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e conselheiro do Banco Master
  • Jorge Gerdau, empresário e presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC)
  • Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Conselho de Administração do Bradesco
  • Marcelo Noronha, CEO do Bradesco
  • Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda
  • Pedro Parente, ex-ministro da Casa Civil e sócio da eB Capital
  • Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES
  • Orly Machado, fundador e presidente da C&M Software
  • Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central
  • Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME)
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