Carolina Barros - diretora do BC -Banco Central Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 20 de junho de 2024 às 08h14.
Última atualização em 20 de junho de 2024 às 10h33.
Uma moeda forte faz um país forte, inegavelmente, nas palavras da diretora de diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central (BC), Carolina de Assis Barros. Em entrevista exclusiva à EXAME, ela afirmou que os servidores da autoridade monetária têm a “missão grandiosa” de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, um legado do Plano Real, que comemora 30 anos em 1º de julho.
“Na medida em que eu tenho uma moeda forte, eu tenho um país forte, inegavelmente. Quando olhamos para o poder de compra, manter a capacidade do dinheiro de pagar ao longo do tempo, de comprar, adquirir, mais ou menos, a mesma quantidade de bens e serviços, isso é uma conquista de valor inestimável”, disse.
Ela foi responsável por conduzir no BC o processo de criação da cédula de R$ 200, a última atualização da família do real, lançada em 2020. Além disso, ela tem acompanhado com grande atenção a relação do brasileiro com o dinheiro e com os meios de pagamento.
Durante a pandemia, o volume de dinheiro em circulação cresceu 30%. Atualmente, esse nível é 20% superior ao do período da crise sanitária. Na prática, mais cédulas são usadas no Brasil.
“A relação do brasileiro com o dinheiro é bastante forte. O brasileiro tem hábitos heterogêneos, temos um país continental. O brasileiro não gosta muito de usar moedas e isso é um desafio para combater indisponibilidades momentâneas de troco”, disse.
Em pesquisa recente realizada pelo BC, segundo Carolina, 64% da amostra respondeu que recebe os salários em conta e outros 34% em dinheiro, número considerado expressivo pela diretora da autoridade monetária.
“Também perguntamos o meio de pagamento mais utilizado. Os quatro meios de pagamento que surgiram, totalizando 97% do uso dos meios, são o Pix, o dinheiro, o cartão de débito e o cartão de crédito. O Pix é a preferência de 41%, ao passo que o dinheiro, 38%. O cartão de débito, 13%, e o de crédito, 5%”, afirmou.
Entre as regiões do país, 50% dos entrevistados no Nordeste afirmaram que prefere usar o dinheiro como meio de pagamento e 38%, o Pix.
“O dinheiro ainda é base da economia, mas a gente vê que os meios de pagamento digitais vêm crescendo em termos de uso, notadamente o uso do Pix. Mas a gente tem desafios para que esse uso seja amplificado”, disse.
Segundo ela, três desafios são significativos. O primeiro tem relação com a bancarização. O segundo está relacionado ao nível de informalidade da economia. E o terceiro é um desafio tecnológico, em que é necessário oferecer conectividade em todas as regiões do país e acesso aos smartphones.
“O BC é observador de tudo que está acontecendo e nós servidores somos privilegiados em poder assistir isso de perto. Eu acredito, primeiro, que o dinheiro não deve ser erradicado completamente. E é bem provável que os meios de pagamento digitais sigam crescendo. A proposta do Drex gera mais opções aos usuários. Ela pretende reduzir custos de intermediação, faz uso de tokenização. É mais uma etapa nesse processo da gente evoluir o sistema financeiro, lembrando que ele é cada vez mais digital, mais disruptivo e mais inovador”, disse.
Carolina foi entrevistada para a série documental "Plano Real, 30 anos", um projeto audiovisual da EXAME que ouviu alguns dos principais economistas, executivos e banqueiros do Brasil.
Entre os entrevistados estão: