Minério de ferro da Vale: há duas décadas a China tenta reduzir sua dependência em relação ao minério fornecido pelas três principais empresas do setor, a brasileira Vale e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 16 de abril de 2014 às 11h30.
Xangai - O plano da China para se tornar autossuficiente em minério de ferro pode fracassar antes mesmo de começar, por causa dos altos custos da produção interna e da má qualidade do seu minério. No fim das contas, os fornecedores estrangeiros podem acabar enviando mais matéria-prima para o seu maior mercado.
Há duas décadas a China tenta reduzir sua dependência em relação ao minério fornecido pelas três principais empresas do setor, a brasileira Vale e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton, mas sem muito sucesso, porque o custo para a produção de minério de ferro dentro da China é maior do que o preço para importação.
As mineradoras globais, por sua vez, estão ampliando sua produção para ocupar uma maior parcela do mercado chinês. Na quarta-feira, a BHP elevou para 217 milhões de toneladas a sua meta de produção para o ano, ao passo que a Rio Tinto está perto de extrair 300 milhões de toneladas por ano, e a Vale prevê mais de 360 milhões.
A China, que compra mais de dois terços do minério de ferro do mundo, está desenvolvendo um plano para criar seis a oito grandes mineradoras até 2025, cada uma com capacidade para mais de 30 milhões de toneladas, segundo a agência estatal de notícias Xinhua. Uma proposta para isso deverá ser submetida ainda neste ano ao Conselho do Estado.
Mas a produção total dessas companhias atenderia a apenas um terço da demanda chinesa, tornando aparentemente impossível atingir a meta de reduzir a menos da metade as importações do país em um prazo de dez anos. Além disso, a qualidade do minério chinês vem caindo, e por isso é possível que as grandes mineradoras estrangeiras precisem exportar cada vez mais para a China.
Embora a produção chinesa de minério cresça ano após ano, essa matéria-prima é de baixa qualidade, o que obriga os produtores a cavarem mais fundo, elevando os custos.
"A única forma de as novas mineradoras integradas competirem contra as grandes mineradoras é se elas conseguirem cortar custos, mas não acredito que isso possa acontecer", disse um alto funcionário de uma mineradora chinesa de porte médio, com produção anual de 2 a 3 milhões de toneladas. Ele pediu anonimato.
O minério chinês teve um teor médio de ferro de 21,5 por cento no ano passado, contra 31,2 por cento dez anos antes, segundo Pan Guocheng, executivo-chefe da mineradora privada China Hanking Holdings Ltd.
Para efeito de comparação, o minério brasileiro e australiano pode passar de 57 por cento de teor de ferro. Assim, o custo do minério chinês é de 105 dólares por tonelada, podendo chegar a 140 dólares em alguns casos, ao passo que o produto australiano e brasileiro fica em 60 a 65 dólares, contando o frete, segundo a Associação de Mineração Metalúrgica da China.
Atualmente, a cotação internacional do minério está em 117 dólares por tonelada. Pan disse em uma conferência em fevereiro que, se o preço cair a menos de 100 dólares, 40 a 50 por cento das minas chinesas podem fechar, e a produção do país pode ser reduzida em cerca de 150 milhões de toneladas.
O produto atingiu sua maior cotação em fevereiro de 2011, chegando a quase 200 por cento, mas caiu 40 por cento desde então.