Muralha da China: projeção do HSBC para o crescimento chinês está na faixa acima de 8% até 2015 (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2012 às 11h28.
São Paulo - A desaceleração da China preocupa, mas o pior ficou para trás, segundo o economista e consultor Ricardo Amorim. O consultor acredita que o país deve ser uma das principais fontes de financiamento dos investimentos em infraestrutura do Brasil.
“O que preocuparia seria uma mudança estrutural na China que gerasse uma crise sistemática”, afirmou Amorim durante o video chat “Brasil e China - Novo Corredor”, promovido pelo HSBC. Um gatilho de crise na China seria a imobiliária, segundo Amorim, que descarta a opção nesse momento, com base em um estudo que fez sobre as bolhas imobiliárias dos últimos 100 anos. Amorim afirmou que a China não apresenta as condições que eram comuns às outras bolhas, como o excesso de crédito – apesar da preocupação com o crédito informal no país.
“O problema é a qualidade da informação que você recebe para analisar os dados. As informações oficiais passam essa impressão que a alavancagem do credito imobiliário é muito baixa, o problema é que você pode ter parte desse crédito imobiliário mascarado”, disse Henrique Vianna, executivo do HSBC responsável pela mesa Brasil-China. Para o executivo, o governo chinês tem tomado os cuidados necessários para não ter uma crise e a área de real estate está sob controle naquele país.
Dinheiro chinês
A China deve ser uma das principais fontes de financiamento dos investimentos em infraestrutura do Brasil, segundo Amorim. O economista argumenta que, hoje, a China investe, primordialmente, em títulos do tesouro americano, que não tem apresentado a melhor rentabilidade para eles. Se, ao invés de comprar esses títulos, os chineses financiassem investimentos em infraestrutura no Brasil, a rentabilidade seria maior e a China ainda se beneficiaria indiretamente das melhorias na nossa infraestrutura, já que tem o Brasil como importante parceiro comercial.
“Resolve um gargalo, porque o Brasil exporta para a China, se por falta de ferrovias o Brasil não consegue exportar o minério de ferro, há um impacto negativo no crescimento chinês. Por isso deve crescer muito o investimento chinês aqui”, disse Amorim. Para Vianna, hoje, faz sentido para os chineses investirem no Brasil.
Os parceiros estratégicos, EUA e Brasil, devem cada vez mais solidificar essa aliança que existe com a China, segundo Vianna. Para Amorim, uma possível mudança no comando dos EUA não deve afetar as relações com o país – por mais que Romney alfinete o país. “Há uma codependência entre China e EUA e talvez cada vez mais os EUA precisem da china do que o contrário”, disse Amorim. O consultor lembrou que os chineses são importantes para financiar o crescente déficit público americano.
Ontem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a visão de que o Brasil depende da China é extremada. Tombini afirmou que a economia chinesa caminha para “pouso suave”, mas os impactos no Brasil são limitados. Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil importou mais produtos chineses do que norte-americanos. Isso indica que a China pode ultrapassar os Estados Unidos em 2012 e tornar-se o maior fornecedor de produtos para o Brasil. O país já é o principal destino das nossas exportações.
Para o presidente do BC, o Brasil ainda é uma economia relativamente fechada. As exportações brasileiras correspondem a 10,7% do PIB – sendo 2% dele originado pelas exportações brasileiras para a China.
Ultrapassagem
“Mesmo com a crise, o crescimento chinês caiu para um dígito, mas ainda é um dígito alto”, disse Vianna. A projeção do HSBC para o crescimento chinês está na faixa um pouco acima de 8% até 2015. Para o período entre 2016 e 2020, o banco projeta um crescimento na faixa dos 8%, ou um pouco menos. “Você vê que não vai demorar muito tempo para a China ultrapassar os EUA em tamanho de PIB”, disse Vianna.
O crescimento chinês está se desacelerando e mudando de perfil, segundo Amorim. Desde o ano passado, a maior parte veio do consumo de chinês, não de exportações ou de investimentos feitos na china, afirmou. Pelas projeções do consultor, se nos próximos 10 anos o mundo crescer como nos últimos 10, em 2022 a economia chinesa será a maior do mundo, seguida pelos Estados Unidos.
Vianna concorda com o ganho de importância do mercado doméstico. “O processo de urbanização está mudando as características do mercado”, disse. Para Vianna, o país ainda tem espaço para investir, tendo em vista que, por exemplo, 70% das cidades chinesas com mais de cinco milhões de habitantes não tem metrô. “Com esse processo de urbanização, vamos continuar vendo esses investimentos, além do desenvolvimento natural do mercado de consumo”, disse.
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