Notas de real (Marcos Santos/USP Imagens)
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de setembro de 2015 às 12h28.
São Paulo - A economia brasileira terá uma queda de 3% este ano e 2% no ano que vem, de acordo com as últimas projeções do banco francês BNP Paribas.
Para o mercado, a recessão será de 2,8% em 2015 e 1% em 2016, segundo o último Boletim Focus divulgado ontem. A última vez que o Brasil teve dois anos de queda do PIB foi nos anos 30, após a crise de 1929.
"O risco em torno das nossas próprias projeções, que já são mais pessimistas do que as do mercado, é para baixo. A recessão pode ser pior do que a gente está prevendo e a variável chave é a confiança. Sem uma retomada dela, não haverá uma retomada sustentada do crescimento", disse Marcelo Carvalho, economista-chefe para a América Latina, em coletiva online nesta terça-feira.
Os índices de confiança do consumidor e da indústria estão em baixas históricas, de acordo com os últimos números da Fundação Getúlio Vargas.
Política fiscal
Carvalho diz que o "cerne do problema macroeconômico brasileiro" é a questão fiscal, já que foi a piora nas contas do governo, incluindo a apresentação de Orçamento com déficit primário, que levou ao rebaixamento da nota pela Standard & Poor's e a um aumento das percepções de risco.
Ele acha pouco provável que a Fitch diminua a nota do país em dois níveis de uma só vez, mas já espera queda de um degrau, com manutenção do grau de investimento.
Mudar a perspectiva dos agentes econômicos neste momento depende não só do ajuste de curto prazo mas também de uma sinalização mais longa sobre o fiscal que não dê margem para "ambiguidades" da parte do governo:
"Mais do que a ponte de curto prazo, precisamos ter clareza sobre para qual terra firme estamos caminhando", diz Carvalho.
Inflação e dólar
A previsão do banco é de inflação de 9,5% em 2015 e 6,5% em 2016 (também acima da previsão de mercado de 9,46% e 5,87%, respectivamente).
"A recessão ajuda a segurar o aumento de preços, mas há mecanismos de inércia inflacionária que fazem a inflação de hoje respingar na de amanhã, e para isso câmbio valorizado não é uma boa notícia", diz Carvalho.
Do ponto de vista do ajuste das contas externas, o dólar mais valorizado é vantajoso, já que segura o gasto no exterior e estimula as exportações.