Mantega: para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a última coisa que o país precisa agora é de uma política fiscal mega expansionista (REUTERS/Nacho Doce)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2013 às 12h01.
São Paulo – O crescimento de 0,6% do PIB no primeiro trimestre de 2013 ante o anterior veio abaixo da maior parte das expectativas do mercado (que estavam, em sua maioria, por volta de um crescimento de 0,8% a 1,0%). As surpresas negativas do lado da oferta vieram de indústria e serviços, já do lado da demanda, a grande surpresa negativa foi o consumo das famílias, segundo Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. “Apesar de crescer pouco, crescemos mais do que poderíamos, porque a inflação continua incomodando”, afirmou Alessandra.
“É um primeiro trimestre mais fraco, mostra que a economia está em uma recuperação muito devagar e temos muito estímulo fiscal e monetário na praça”, disse Alessandra. A expectativa da Tendências para o crescimento da economia brasileira em 2013 deverá ser revisada de 3,0% para um número entre 2,8% e 2,5%. “Há um risco grande de crescer menos do que 2011 (2,7%)”.
A projeção da Gradual Investimentos para o PIB de 2013 segue em 2,1%. A projeção para o segundo trimestre é de crescimento de 0,50% – com a agropecuária e os investimentos sem o mesmo crescimento do primeiro trimestre, o cenário externo ainda ruim e a indústria com o mesmo comportamento.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o momento não pede mais pacotes de estímulo do governo. “A última coisa que precisávamos agora era uma política fiscal mega expansionista, não adianta forçar a máquina que não vai funcionar desse jeito”, disse. Para o economista, a atividade um pouco mais modesta agora resolveria um pouco a expectativa de inflação.
Selic
Para André Perfeito, o crescimento de 0,6% sugere que a alta na taxa básica de juros será menor – de 0,25 ponto percentual e não de 0,50 ponto percentual como parte do mercado espera. No entanto, a taxa de juros não deve ser mantida em 7,50%, segundo André Perfeito. “Até para manter a credibilidade eles não podem parar”, afirmou.
Impactos negativos
No setor externo, as importações subiram 6,3% enquanto as exportações caíram 6,4%. Para André Perfeito, isso mostra a limitação do setor externo à economia brasileira. “Acho que não será possível continuar crescendo com essa situação externa”, disse.
No trimestre, os serviços cresceram 0,5% e a indústria caiu 0,3% em relação ao último período de 2012. A queda da indústria foi puxada pela extrativa mineral (-2,1%) e a construção civil (-0,1%). Nos serviços, Outros serviços e transporte, armazenagem e correio caíram 0,5% e 0,9%, respectivamente.
Para o economista chefe da Gradual Investimentos, a estabilidade do consumo das famílias (que cresceu 0,1% no trimestre ante o anterior) mostra uma possível chegada ao limite do crescimento via consumo. “Essa ideia de crescimento baseada no consumo tem limite, não é possível continuar crescendo na mesma velocidade, já está em um patamar elevado”, disse.
O crescimento de apenas 0,1% no consumo das famílias tem um efeito forte da inflação, segundo Alessandra, principalmente da inflação de alimentos. “As pessoas gastam mais com alimentos e deixam de gastar com o resto”, disse. O mercado de trabalho e o crédito também vieram mais fracos no período.