Economia

PIB de 2016 deve cair, com recuo de 9,5% nos investimentos

A estimativa é do economista Juan Jensen, da 4E Consultoria. "O pior do resultado do ano passado são os investimentos, que caíram 14%.


	Sede do Banco Central em Brasília: a estimativa é do economista Juan Jensen, da 4E Consultoria. "O pior do resultado do ano passado são os investimentos, que caíram 14%
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Sede do Banco Central em Brasília: a estimativa é do economista Juan Jensen, da 4E Consultoria. "O pior do resultado do ano passado são os investimentos, que caíram 14% (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 3 de março de 2016 às 12h15.

São Paulo - O Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 deve cair 3,4%, após a retração de 3,8% em 2015 anunciada nesta quinta-feira, 3, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A estimativa é do economista Juan Jensen, da 4E Consultoria. "O pior do resultado do ano passado são os investimentos, que caíram 14%.

Em 2016, projetamos uma nova retração de 9,5% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)", afirmou, citando os reflexos negativos dos cortes de investimentos da Petrobras e de empreiteiras, envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato.

Para o especialista, a única notícia boa dos resultados do PIB de 2015 é referente ao setor externo, que está reagindo à depreciação do real ante o dólar e da consequente queda das importações. "Se não fosse isso, a economia estaria caindo ainda mais", afirmou.

Para 2016, o especialista estima que a atividade seguirá em declínio ao longo do primeiro semestre e pode dar sinais de estabilização "com pequena melhora" no segundo semestre.

A retomada do crescimento, no entanto, ainda está longe. "As exportações vão apresentar melhora já em 2016. Provavelmente, para 2017, volta o crescimento no consumo. Os investimentos só devem ser retomados em 2018 ou 2019", estimou. "Vai ser uma trajetória longa".

Surpresa positiva

A queda de 3,8% do PIB em 2015 foi ruim e quanto a isso não resta dúvida, na avaliação do sócio-gestor da Modal Asset Managenent, Luiz Eduardo Portella.

Mas, quando se analisa o dado pela perspectiva das expectativas dos analistas do mercado, diz Portela, "O PIB foi bom".

Para ele, o mercado esperava um número pior - a mediana das expectativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo AE Projeções era de uma queda de 3,9%.

"A surpresa veio da queda menor do setor de serviços e da redução dos gastos do governo, que é positivo para a política fiscal", avalia o sócio da Modal Asset Management.

O setor de serviços caiu 1,4% no quarto trimestre de 2015 em relação aos três meses anteriores e 4,4% em relação ao mesmo trimestre em 2014.

Estas taxas são menores que as previstas pelo mercado. Quanto aos gastos do governo, Portella lembra que ele mesmo esperava pela estabilidade e os dados efetivos, no quarto trimestre registraram queda de 2,9%.

Para 2016, o executivo projeta uma queda de 4,2% da economia brasileira.

A Modal Asset prevê ainda que a queda do PIB em 2015 implicará em um carregamento estatístico (carry over) negativo de 2,5% a neste ano.

Ou seja, mesmo que não acontecesse nada na economia brasileira em 2016, o PIB encerraria o ano com queda de 2,5%.

Com e sem Dilma

A economia brasileira deve repetir em 2016 a queda de 3,8% do PIB registrada em 2015 na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sério Vale.

O especialista destaca que esta projeção contempla uma melhora do atual impasse político e "alguma solução qualquer que envolva necessariamente a saída da presidente Dilma Rousseff", seja por meio do impeachment ou da cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Não se acredita mais que haja uma solução viável. Depois de 5 anos, já se perdeu a esperança de uma coalizão comandada por ela. Com a Dilma no poder, o recuo no PIB pode chegar a 4,9%", estimou.

O especialista destaca que uma melhora nos investimentos e na indústria, por exemplo, ocorreu após a saída de Fernando Collor da Presidência, no início da década de 1990.

"No período dos escândalos e do processo de impeachment, a queda na produção industrial chegou a 17% na comparação interanual. Na hora em que foi decidida a saída de Collor, o setor passou a crescer entre 15% e 20%", disse.

Para ele, a estabilização da situação política tem um efeito muito positivo sobre as expectativas e seria capaz de reverter a atual desaceleração da economia brasileira.

Vale ressalta ainda a intensificação do ritmo de queda da atividade econômica no País, como indica a retração de 5,9% no PIB do quarto trimestre ante igual período de 2014.

No resultado fechado de 2015, a peculiaridade desta recessão, segundo o economista da MB Associados, é o fato de os recuos serem generalizadas tanto do lado da oferta como na demanda.

"Diferentemente de outros momentos de recessão no passado recente, como em 1999, 2003 e 2008, desta vez poucas coisas se salvaram", afirmou, em referência ao "crescimento baixo" de 1,8% do PIB da Agropecuária no ano passado e à elevação de 6,1% nas exportações, "reflexo do câmbio positivo", ambos na comparação com 2014.

Na avaliação do economista, sob a ótica da oferta, é natural ver quedas mais intensa da indústria em períodos recessivos, mas a retração de 2,7% observada no PIB de Serviços no ano passado é novidade.

Esta foi a primeira queda registrada na série histórica do IBGE, que tem início em 1996.

Do lado da demanda, Vale aponta o declínio de 4,0% no consumo das famílias o destaque negativo.

"Estes são os dois itens de cada lado que respondem por mais de 60% do PIB. E por isso, têm o impacto muito negativo que vimos sobre a economia ao longo de 2015", afirmou.

Juros e Inflação

Questionado sobre os efeitos do resultado efetivo do PIB sobre a política monetária, Jensen, da da 4E Consultoria, considera que o Comitê de Política Monetária (Copom) não deve alterar a trajetória sinalizada nas últimas semanas.

"O BC deve seguir com a política de juros estáveis em 14,25% e acreditamos que um processo de redução deve começar em outubro", disse.

Na avaliação do economista da 4E Consultoria, a queda na economia já pode ser percebida em alguns itens da inflação, "principalmente em serviços".

"Olhando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de forma mais desagregada, já há desaceleração em alguns itens", disse.

Segundo o economista, houve choques de preços, como os de alimentação, nos dois primeiros meses de 2016, mas daqui para frente passaremos a ver taxas menores", estimou, ressaltando que, mesmo assim, o IPCA seguirá elevado.

A projeção de Jensen é que a inflação encerre o ano em 7,5%.

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