Economia

Petrobras reduz ritmo de reajustes da gasolina e gera dúvidas no mercado

Nova dinâmica que está gerando dúvidas entre especialistas sobre o alinhamento da política da empresa ao mercado internacional

Petrobras: preço da gasolina da estatal segue abaixo dos valores internacionais do derivado, segundo analistas (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

Petrobras: preço da gasolina da estatal segue abaixo dos valores internacionais do derivado, segundo analistas (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 10 de agosto de 2018 às 17h44.

São Paulo - A Petrobras reduziu o ritmo de reajustes nos preços da gasolina nas refinarias após os protestos de caminhoneiros e a saída de Pedro Parente do comando da estatal, em uma nova dinâmica que está gerando dúvidas entre especialistas sobre o alinhamento da política da empresa ao mercado internacional.

De 1º de junho até esta sexta-feira, foram 22 as vezes em que a petroleira manteve as cotações da gasolina estáveis nas refinarias de um dia para o outro.

A quantidade contrasta com os 13 reajustes nulos efetivamente reportados pela estatal num prazo bem maior, entre julho do ano passado, quando entrou em vigor a política de oscilações diárias, até o final de maio, em meio às manifestações dos caminhoneiros contra a alta do diesel.

Na prática, a volatilidade (desvio padrão) nos últimos pouco mais de dois meses foi da ordem de 4,5 por cento, enquanto em todo o período anterior a junho atingiu quase 18 por cento.

A Petrobras disse que sua política "permanece inalterada".

"É importante esclarecer que no período em questão as flutuações nos preços do petróleo e derivados, na taxa de câmbio e em outras variáveis contribuíram para que não fosse necessário fazer o reajuste com a periodicidade mais frequente", disse a companhia.

A política de reajustes dos combustíveis em linha com o mercado internacional e o câmbio, dentre outros fatores, foi instituída pela Petrobras em outubro de 2016, sendo que a partir de julho de 2017 passou a contar com oscilações praticamente diárias nos valores de diesel e gasolina.

Com a política agressiva de preços, que ajudou a inflamar os caminhoneiros, a empresa buscou brigar com importadores por participação de mercado no Brasil, além de acompanhar a paridade internacional.

Mas uma disparada no barril do petróleo para perto de 80 dólares neste ano levou as cotações de diesel e gasolina a máximas nas refinarias e nos postos, desembocando nos protestos de maio.

Na esteira das manifestações, Pedro Parente deixou o comando da empresa, a qual recorreu a uma subvenção econômica oferecida pelo governo para o setor congelar o valor do diesel --o combustível mais consumido no país não sofre reajustes nas refinarias desde 1º de junho, cotado a 2,0316 reais por litro.

Para sábado, a Petrobras anunciou que manterá o preço da gasolina em 1,9002 real por litro. O patamar representa queda de 3,4 por cento desde junho, enquanto os futuros de petróleo Brent e gasolina RBOB caíram 6,7 e 7,3 por cento, respectivamente.

Ainda que tenha caído menos, o preço da gasolina da Petrobras segue abaixo dos valores internacionais do derivado, segundo analistas.

Dúvidas

O espaçamento maior entre um reajuste e outro mostra que "a política de preços da Petrobras realmente mudou depois que o (Pedro) Parente saiu", disse o diretor da consultoria Valêncio, especializada em combustíveis, Bruno Valêncio.

"Após a saída dele, há uma preocupação sócio-política na empresa", acrescentou o especialista, que não descarta uma mudança interna na política de reajustes ou mesmo uma possível ingerência política na petroleira.

Para a pesquisadora Fernanda Delgado, da FGV Energia, a redução no ritmo de reajustes é decorrência direta da pressão após os protestos dos caminhoneiros.

"O problema foi jogado para a ponta da ponta... A refinaria é onde você tem algum controle (de preço) hoje", afirmou ela, que defende a continuidade dos desinvestimentos pela Petrobras, em especial em refinarias, como forma de aumentar a concorrência e, potencialmente, contribuir para a redução nos preços dos combustíveis.

"Nada faz sentido se não continuarem os desinvestimentos, a venda de participação nas refinarias. Não adianta que a (reguladora) ANP se organize, que tenha uma política de preços bem organizada, se não for seguido o plano de desinvestimentos da Petrobras no 'downstream'."

A companhia propôs em abril vender 60 por cento de sua atividade de refino nas regiões Sul e Nordeste do país, mas o processo se arrasta sem um desfecho claro dado o pouco interesse de investidores e uma decisão judicial de que vendas de empresas controladas pelo Estado dependem de aval do Congresso.

Walter De Vitto, analista e sócio da Tendências Consultoria, disse que, do ponto de vista da empresa, essa mudança nos reajustes "não é boa, porque a Petrobras tem de ter liberdade para marcar preços alinhados a mercado".

"Não caímos no mundo em que ela estava levando prejuízos, mas leva-se à leitura que cedeu à insatisfação geral", afirmou, acrescentado que os reajustes, mesmo espaçados, têm seguido o exterior, "mas um degrau abaixo", ou seja, com preços inferiores aos do mercado internacional.

O presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, destacou que ao longo de 2018 o valor da gasolina praticado pela Petrobras está, de fato, cerca de 10 por cento abaixo do preço do produto importado e internalizado.

"Esse padrão de certa forma não mudou, embora o ideal fosse que a Petrobras acompanhasse o preço sem um diferencial. O diferencial não mudou, o que mudou foi a frequência (de reajustes)", destacou Nastari.

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