Argentina: moeda do país tem se desvalorizado diante de incessantes crises na economia (Stuart Dee/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 19 de outubro de 2023 às 19h19.
Última atualização em 21 de outubro de 2023 às 10h44.
Algumas empresas argentinas estão suspendendo as vendas na véspera das eleições presidenciais, que acontecem no domingo, temendo que uma nova desvalorização da moeda acabe com a receita. Desde peças de automóveis até a construção e até mesmo papel higiênico, grandes e pequenas empresas prendem a respiração enquanto assessores dos candidatos concorrentes se contradizem sobre o destino do peso.
Os argentinos votam no dia 22 de outubro, domingo, enquanto o país enfrenta a sexta recessão em uma década, com inflação próxima de 140%.
Com as reservas do Banco Central do país no vermelho e o peso sobrevalorizado, quem ganhar as eleições terá que lidar com a desvalorização da moeda enquanto tenta ajustar as contas públicas.
Lideram as pesquisas o atual ministro da Economia, Sergio Massa, e o candidato de extrema direita Javier Milei.
Na quarta-feira, Carlos Melconian, conselheiro econômico da candidata da oposição Patricia Bullrich, previu que a taxa de câmbio oficial desvalorizaria para 500 pesos por dólar, dos 350 atuais.
Isso levou a coligação governante a reagir horas mais tarde, insistindo que não haveria desvalorização na próxima semana ou em breve. Entretanto, o favorito Javier Milei encoraja abertamente os argentinos a pararem de poupar em pesos porque planeja dolarizar a economia.
As expectativas de uma queda do peso são ainda maiores porque o candidato presidencial e ministro da Economia, Sergio Massa, desvalorizou a moeda em 18% no dia seguinte à votação nas primárias argentinas.
Desde então, ele congelou a taxa oficial, levando a especulações públicas generalizadas de outra desvalorização após as eleições gerais, à medida que o peso continua a ser vendido no mercado paralelo, ultrapassando a cotação de mil por dólar.
- É praticamente impossível finalizar as compras esta semana – todos estão esperando os resultados das eleições- disse Juan Pablo Rudoni, chefe da construtora modular EcoSan, cujos fornecedores cancelaram pedidos após já terem confirmado. - Dependendo dos resultados, acho que a próxima semana também será difícil.
Oficinas de automóveis também receberam aviso dos fornecedores esta semana de que não poderão encomendar peças novas antes da votação de 22 de outubro. A gigante norte-americana General Motors ordenou uma suspensão temporária da produção na Argentina na semana passada devido à falta de componentes importados.
Uma fábrica nos arredores de Buenos Aires que vende papel toalha e papel higiênico também notificou os pequenos negócios que as vendas serão suspensas durante toda a semana após a eleição.
Na província de Jujuy, no Norte da Argentina, a mídia local noticiou que postos de gasolina suspendiam as vendas enquanto os clientes tentavam abastecer. No Sul do país, computadores e outros produtos eletrônicos não estão disponíveis na província de Neuquen, na Patagônia, enquanto mercearias e supermercados na província agrícola do Chaco já alertam que alguns fornecedores só venderão depois da votação.
Toda a atividade suspensa é um “comportamento incipiente pré-hiperinflação”, segundo outro conselheiro da Bullrich.
“Isso reflete o jubileu fiscal do governo e a profecia da dolarização”, disse Eduardo Levy-Yeyati nas redes sociais, criticando Massa e Milei. “Esperamos que os resultados de domingo ajudem a acalmar a situação.”
A confusão cambial é tão grande na Argentina que uma remessa de US$ 500 milhões em dinheiro americano ficou retida por três dias no principal aeroporto do país, preocupando os bancos locais em um momento de aumento nos saques.
Os credores do país receberiam esses dólares através do Bank of America. O dinheiro foi enviado em aviões de carga em pacotes de US$ 1,6 milhão, mas a autoridade fiscal do país (AFIP) emitiu uma ordem de fechamento no principal terminal de carga do aeroporto internacional em 10 de outubro.