Guedes sobre cenário macroeconômico: "Águas turbulentas pela frente." (EDU ANDRADE/Ascom/ME/Flickr)
Da redação, com agências
Publicado em 25 de maio de 2022 às 10h43.
Última atualização em 25 de maio de 2022 às 12h39.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a falar da possibilidade de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, o "peso-real", um tema que já havia aventado em 2019. "Eu acho que vamos ver, provavelmente, o peso-real", disse em evento no Fórum Econômico Mundial ao defender maior integração na América Latina e falando de um cenário para 15 anos.
Guedes falou da pandemia e da disrupção das cadeias de produção, que provocou inflação nos mais diferentes países. Depois veio a guerra da Ucrânia, que exacerbou estes movimentos e está levando os bancos centrais a acelerar as altas de juros. "A inflação global está subindo, os preços de alimentos e petróleo estão subindo", disse ele. "Águas turbulentas pela frente."
Nesse ambiente, o Brasil e a América Latina são essenciais para prover segurança alimentar e energética para a Europa, disse Guedes.
Brasil está bem posicionado diante de desaceleração global, diz Mario Mesquita do Itaú
Em viagem recente aos Estados Unidos, o ministro contou que ouviu da secretária de Tesouro, Janet Yellen, que o cenário de investimento no mundo mudou, em meio a uma alta dos riscos geopolíticos. Nesse ambiente, para receber investimentos e para o comércio, os países precisam estar próximos, o conceito de "naershoring", e além disso, serem alinhados, o "friendly-shoring". "Este é o novo ambiente", disse Guedes.
Guedes participou de um evento sobre América Latina, para discutir empreendedorismo e práticas de governança, sociais e ambientais na região, que formam a sigla ESG. No mesmo evento, o fundador e CEO do Nubank, David Velez, contou a história do banco e falou do número ainda alto de pessoas sem acesso a bancos na região.
Guedes disse que o Brasil está destinado a ser um gigante da energia “limpa e barata” e afirmou que conversou com europeus para possíveis investimentos no país. O ministro participou de evento que discutia a dívida global no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
— Quinze por cento da nossa energia são eólica e solar e vamos dobrar isso, 65% são de hidrelétrica. Praticamente 80% são energia limpa. Quem vai produzir hidrogênio limpo para a Europa? Porque eles não podem depender do gás natural russo. Nós somos os candidatos, então quem quer produzir energia eólica vem para o Brasil — disse Guedes durante o painel.
A fala de Guedes ocorreu poucas horas após o enviado especial do governo americano para o clima, John Kerry, ter dito também em Davos que os Estados Unidos "estão trabalhando muito de perto" com o Brasil sobre a Amazônia". Ele disse que o Brasil é um "país crítico" na questão climática e que é crucial barrar o desmatamento da Amazônia.
O ministro aproveitou a oportunidade para defender a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Guedes relatou que conversou com representantes de países como Bélgica e França e, argumentando que eles barram a entrada do Brasil por serem protecionistas na agricultura, disse que eles deveriam aceitar antes de se tornarem “irrelevantes” para o país.
— Eu conversei com eles, eu disse que eles precisam nos aceitar antes de se tornarem irrelevantes para a gente. Nós costumávamos ter uma balança comercial de US$ 2 bilhões com a França e de US$ 2 bilhões com a China no começo do século. Agora nós trocamos US$ 120 bilhões com a China e US$ 7 bilhões com a França, é irrelevante pra gente — relatou o ministro.
O ministro ainda disse que a Europa poderia ficar “isolada” se não se integrasse com outras regiões do mundo, como a América Latina.
— Eu falei para os europeus: Vocês perderam a Rússia e agora vocês estão perdendo a América Latina. Vocês ficarão sozinhos se não entenderem que devemos integrar os que ficaram para trás.Nós ficamos para trás, mas agora vamos crescer no eixo de energia verde, digital e segurança alimentar — afirmou.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comentou na manhã desta quarta-feira que há espaço limitado para dar reajuste de salário ao funcionalismo público federal, mas não há como repor perdas passadas por causa da inflação.
"A inflação acumulada neste ano é de 5% até agora. É possível repor o funcionalismo deste ano? Sim, é possível, até 5% dá", disse a jornalistas após um café no Fórum Econômico Mundial em que debateu o comércio da América Latina com a Ásia e o Pacífico.
"Você pode até dar alguma coisa, mas esquece o que ficou para trás", disse Guedes, argumentando que na Alemanha, nos Estados Unidos, perdas salariais aconteceram, assim como em outras categorias no Brasil. "Todo mundo perdeu no mundo inteiro."
"É por lei, em ano eleitoral você só pode dar até a inflação e linear. O presidente gostaria de dar aumento aos policiais, mas não pode, é visto como aliciamento", afirmou o ministro. Jair Bolsonaro já chegou a defender aumento de 20% para os policiais e segue defendendo reajuste maior para a categoria.
O argumento de Guedes é que aumentos muito altos vão piorar a situação fiscal do Brasil, fazendo as contas voltarem à situação de antes. "Pela primeira vez em 15 anos zeramos o déficit em todos os níveis da federação. Estamos numa situação ímpar." No primeiro trimestre, o governo teve superávit primário e, em Davos, o ministro tem passado a mensagem que a consolidação fiscal continua no Brasil.