UE: os defensores do pacto querem agilizar as negociações, já que o Brasil terá eleições em 2018 (Darren Staples/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 16h39.
Os defensores de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, em negociação há quase 20 anos, pedem que a retirada americana do comércio multilateral e a disposição de Brasil e Argentina sejam aproveitadas para alcançar um acordo entre os dois blocos antes do fim do ano.
"Em um momento em que está havendo uma retirada do mundo algo-saxão dos dois lados do Atlântico (...), devemos aproveitar esta oportunidade para reforçar o vínculo atlântico entre a UE e a América Latina", afirmou o ex-ministro de Relações Exteriores espanhol, Josep Piqué, referindo-se ao Brexit e à chegada ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos.
"Levamos tempo demais negociando", queixou-se Piqué, em uma conferência celebrada esta semana no Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Science Po, sobre a relação entre UE e América Latina "diante da crise do multilateralismo". O ex-ministro, cujo país apoia as negociações, criticou a Argentina e o Brasil - que compõem o bloco ao lado de Paraguai e Uruguai - por terem demorado.
"Mas agora temos uma janela de oportunidade pelas circunstâncias políticas nesses dois países", destacou, lembrando que tanto o presidente argentino, Maurcio Macri, quanto o brasileiro, Michel Temer, aprovam este acordo.
Mas os defensores do pacto querem agilizar as negociações, já que o Brasil terá eleições em 2018.
A mais recente rodada de negociações foi concluída na sexta-feira passada, em Brasília, em clima de otimismo. O vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, avaliou que um acordo está próximo. No fim deste mês, está prevista uma nova rodada em Bruxelas.
A ex-chanceler argentina Susana Malcorra, que vai presidir a conferência ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC) em Buenos Aires, em dezembro, espera que seja anunciado, então, um "acordo político" entre UE e Mercosul.
"No contexto em que o comércio mundial que está sendo questionado, é muito importante que esses dois mercados tão significativos digam 'estamos prontos'", disse Malcorra à AFP em Paris, apesar de afirmar que essa não é uma mensagem dirigida a ninguém específico.
O presidente americano, Donald Trump, freou os acordos comerciais ao anunciar a saída de seu país do Tratado de Livre-Comércio Ásia-Pacífico (TPP) e ameaça fazer o mesmo com o da América do Norte (Nafta).
Assim, o anúncio de um acordo UE-Mercosul "seria um símbolo político", acrescentou Malcorra, insistindo na necessidade de anunciar "decisões concretas".
Para alcançar um acordo com o Mercosul, Bruxelas terá que convencer a França, que teme que as exportações de carne e etanol das potências do Cone Sul para a UE afetem seu setor agropecuário.
Mas, para Katainen, em declarações feitas em Bruxelas na segunda-feira, "a França seria um dos principais beneficiários" de um acordo comercial entre UE e os países do Mercosul.
Para os latinos, o acordo teria outra vantagem: permitiria "reequilibrar suas relações econômicas e ficar menos dependentes da China", explicou à AFP o uruguaio Christian Daude, diretor de Pesquisas Socioeconômicas do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
"A concentração em um único investidor e um único parceiro comercial pode ser perigosa, do ponto de vista da estabilidade econômica, para a região, se por acaso acontecer algo com a China no futuro", alertou.