Economia

Parlamento do Chipre adia votação de resgate

Apesar do adiamento, centenas de pessoas se reuniram diante do Parlamento gritando "não ao euro!" ou "a Europa existe por seus povos, não pela Alemanha"


	Bandeiras do Chipre e da União Europeia: "Se o acordo for rejeitado, então nos encontraremos muito provavelmente fora da Europa", disse o economista cipriota Simeon Matsi.
 (J. Patrick Fischer/Wikimedia Commons)

Bandeiras do Chipre e da União Europeia: "Se o acordo for rejeitado, então nos encontraremos muito provavelmente fora da Europa", disse o economista cipriota Simeon Matsi. (J. Patrick Fischer/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2013 às 14h54.

Nicósia - O Parlamento do Chipre adiou até terça-feira a votação do resgate acordado pela União Europeia (UE) e pelo FMI, que inclui um polêmico imposto excepcional sobre os depósitos bancários que preocupa os mercados e provoca uma ampla rejeição na ilha.

Apesar do adiamento, centenas de pessoas se reuniram diante do Parlamento gritando "não ao euro!" ou "a Europa existe por seus povos, não pela Alemanha".

Trata-se do segundo adiamento desde sábado desta votação sobre o plano, que prevê taxas de até quase 10% sobre os depósitos bancários.

Para evitar retiradas maciças de fundos, os bancos do Chipre permanecerão fechados até quinta-feira, indicou nesta segunda-feira à AFP uma fonte do Banco Central. Os bancos permanecem fechados - nesta segunda-feira foi feriado - desde que o plano de resgate foi acordado, na madrugada de sábado, com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A Eurozona e o FMI concordaram na madrugada de sábado com um plano de resgate de 10 bilhões de euros para o Chipre, em troca da imposição desta taxa excepcional sobre os depósitos bancários na ilha, que provoca uma ampla rejeição entre os cipriotas e em vários partidos políticos do país.

Estas taxas são de 6,75% para os depósitos bancários de menos de 100.000 euros e de 9,9% quando superam esta soma. A medida deve permitir arrecadar 5,8 bilhões de euros.

No entanto, o ministro cipriota das Finanças, Michalis Sarris, e o governador do Banco Central, Panicos Demetriades, explicaram nesta segunda-feira que buscavam uma forma de imposição de depósitos bancários menos severa para os pequenos poupadores.


Os ministros das Finanças da Eurozona realizarão nesta segunda-feira uma teleconferência para debater esta nova proposta do Chipre, que prevê reduzir a carga que os pequenos poupadores precisarão pagar.

A medida de impor os depósitos bancários - tanto de cipriotas quanto de residentes estrangeiros - provocou críticas não apenas na ilha mediterrânea.

"É preciso dizer francamente, isto parece um confisco de recursos estrangeiros. Não sei quem teve a ideia, mas isto é o que parece", declarou nesta segunda-feira o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev.

Pouco antes, o presidente russo, Vladimir Putin, entrou no debate declarando que "esta decisão, se for adotada, será injusta, não profissional e perigosa", segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

A agência Moody's calculou em 19 bilhões de dólares os bens das empresas russas no Chipre. Ao valor seriam adicionados 12 bilhões de dólares dos bancos russos em entidades cipriotas.

Já o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, advertiu que o controverso plano de resgate do Chipre pode gerar uma "perda de confiança, não apenas de parte dos bancos, mas também do povo" na Eurozona.

O debate parlamentar de terça-feira no Chipre se anuncia como acalorado, já que o plano de resgate foi criticado pelos partidos AKEL (comunista), EDEK (socialista) e DIKO (centro-direita), que somam 32 dos 56 assentos da câmara.


"Se o acordo for rejeitado, então nos encontraremos muito provavelmente fora da Europa", disse o economista cipriota Simeon Matsi.

O presidente do Chipre, Nicos Anastasiadis, afirmou no domingo que, apesar das duras condições, esta era a solução menos dolorosa para o país.

Outras condições do resgate são um plano de privatizações e um aumento do imposto sobre as sociedades de 10% atual, o mais baixo da Eurozona, a 12,5%. Há meses o Chipre vem sendo acusado de ser um paraíso fiscal e de não se preocupar muito sobre a origem dos fundos depositados em seus bancos, em particular russos.

A medida sobre os depósitos bancários causava inquietação nos mercados financeiros, temerosos de que a iniciativa se estenda a outros países em dificuldades da Eurozona.

As bolsas europeias abriram nesta segunda-feira em forte baixa, embora tenham se moderado durante a manhã. Também sob a influência cipriota, Wall Street iniciou o dia em baixa.

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