Campos Neto: presidente do BC insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 28 de setembro de 2023 às 13h17.
Após sugerir planos para desencentivar o uso do parcelado sem juros do cartão de crédito, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira, 28, que o tema deve ser enfrentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo ele, a proposta inicial da autoridade monetária sofreu forte resistência de vários setores.
"A gente precisa todo mundo sentar e discutir e falar: ‘olha, a solução é uma solução onde precisa cada um ceder um pouco'. Esse debate tem que ser muito mais amplo, junto com o Ministério da Fazenda, e a gente precisa também deixar claro que a gente tem um problema onde o bolo de crédito [rotativo] segue subindo, com uma inadimplência cada vez mais alta, e com uma taxa de juros cada vez mais alta. E que isso eventualmente pode incorrer em um problema para as pessoas e para o consumo. Que não fazer nada também é um problema, ou seja, a gente precisa achar uma solução mais estrutural. Eu não posso dizer aqui qual a solução, pois não depende só do Banco central, e é uma coisa que está sendo conversada mais amplamente", disse.
Como mostrou a EXAME, em média, quem compra no cartão de crédito faz pelo menos 13 parcelas. A ideia debatida pelo BC era criar uma tarifa para que os clientes paguem quando quiserem fazer um parcelamento maior. A proposta seria incluída na Medida Prosivória que criou o Desenrola. Entretanto, após fortes críticas, a proposta foi descartada.
Campos Neto também falou sobre o projeto de lei que limita os juros do rotativo do cartão em 100% ao ano. Segundo ele, a ideia é criar uma autorregulação por meio do CMN.
"O que tem hoje dizendo é que você tem algum tipo de autorregulação que deve ser encontrada pelo CMN, e que, se isso não for feito em 90 dias, vai para uma solução onde o máximo que poderia pagar em juros é 100% do principal. Nesses 90 dias, vamos tentar fazer uma reunião com todos os setores, com todos envolvidos, para ver se a gente consegue buscar uma solução que seja mais estrutural, de longo prazo, e melhor, para a gente evitar que esse problema do bolo de crédito rotativo subindo constantemente, com a taxa de juros alta e inadimplência alta, em algum momento seja um problema que possa afetar as pessoas de forma mais definitiva, e por consequência afetando o consumo também", afirmou.