Bronx (NY): um dos distritos mais pobres dos EUA, país onde 40 milhões vivem na pobreza e 18,5 milhões, em extrema pobreza (Spencer Platt/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 5 de setembro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 5 de setembro de 2020 às 15h38.
Fatores como número de leitos de UTI, rigor das políticas de isolamento e rapidez na resposta imediata à pandemia de covid-19 foram determinantes na velocidade das mortes em todo o mundo. Cada um dos países, porém, tem características próprias que também podem explicar os níveis de mortalidade pela doença.
No caso dos países mais pobres, por exemplo, como o Brasil, a desigualdade social e econômica é uma dessas singularidades negativas que deixam o combate ao vírus muito mais difícil. O país tem isso em comum com os Estados Unidos, epicentro da pandemia.
A conclusão é de um estudo da Kunumi, organização dedicada ao desenvolvimento de inteligência artificial (IA) e tecnologias emergentes junto ao meio científico, em parceria com o Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Minas Gerais (LIA-UFMG).
Nos dois gráficos abaixo, é possível ver que a desigualdade foi até mais relevante para a aceleração da mortalidade por covid nos EUA. Por outro lado, a falta de leitos de UTI nos hospitais, tida como a principal vilã das mortes pela doença no Brasil, foi um fator que ajudou a melhorar o cenário americano.
O grupo de especialistas desenvolveu uma ferramenta que usa Inteligência Artificial para identificar padrões imperceptíveis para humanos nas variáveis que interferem na taxa de mrtalidade por covid-19 em 22 países. O sistema cruza os dados disponíveis em dezenas de fontes públicas para chegar no resultado de velocidade de aceleração e taxa de mortalidade diária
Os países considerados são: África do Sul, Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Dinamarca, Equador, Egito, Espanha, Estados Unidos da América, França, Holanda, Índia, Irã, Israel, Itália, Japão, México, Nigéria, Nova Zelândia, Peru, Reino Unido e Suécia.
Embora seja a maior economia do mundo, os EUA tem um dos piores índices de pobreza entre seus pares desenvolvidos. No cenário pré-pandemia, 40 milhões de americanos viviam na pobreza (pessoas com rendimento domiciliar entre R$ 145 e R$ 429 mensais pelo critério do Banco Mundial), cerca de 12% da população do país. Além disso, 18,5 milhões vivem em extrema pobreza (renda mensal per capita inferior a R$ 145, ou U$S 1,9 por dia), segundo as Nações Unidas.
No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, a estimativa é que haja 38 milhões de pessoas em situação de pobreza, (18% da população) e mais de 13 milhões em extrema pobreza.
A principal conclusão do estudo, que levou meses para ser feito e envolveu 14 pesquisadores , é que a realidade da pandemia é mais complexa para cada país do que, muitas vezes, se vê : "Há muita polarização em torno desse tema. As pessoas tendem a culpar x ou y pela aceleração das mortes, mas é importante termos em mente que há uma série de fatores interagindo", diz Gabriella Seiler, que é Diretora de Operações da Kunumi.
Na Bélgica, por exemplo, o estudo identificou que a grande quantidade de idosos morando em asilos ou casas de repouso foi o principal fator a elevar as taxas de mortalidade por covid no país. Essas mortes representam cerca de um terço do total registrado no país.
"Cada país teve uma particularidade. O que afetou a Itália é totalmente diferente do que afeta o Brasil, a Espanha", diz. É esperado também que a ferramenta apoie formadores de políticas públicas em decisões futuras. A feramenta está disponível aqui. Para ver os resultados, basta selecionar o nome do país.