Alexandre Tombini em seu gabinete no BC: ele diz que inflação fechará 2013 dentro da meta (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2013 às 09h31.
São Paulo - O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirma que está em campanha para recuperar a confiança das pessoas na economia. Para ele, o processo de retomada do crescimento foi prejudicado por um abalo de confiança que trava os investimentos. "É necessária uma reversão dessa confiança para a economia continuar no processo de recuperação gradual", diz o presidente do BC.
Questionado sobre se o governo vai cumprir a promessa de fazer um ajuste nas contas públicas, Tombini afirma que essa decisão não passa por ele. Mas entende que o governo não pode deixar dúvidas sobre suas intenções e assumir um compromisso. "O importante é que o governo defina. E, quando definir, forneça um detalhamento à sociedade sobre como isso será alcançado."
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O Estado de S. Paulo: Na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), um dos pontos que mais chamaram a atenção foi a afirmação de que houve queda na confiança de famílias e empresas na economia. Por que chamaram a atenção para isso?
Alexandre Tombini: O combate à inflação vem no sentido de agregar, de ajudar a restabelecer a confiança. Tem esse condão também. Nós vínhamos num processo de recuperação, o PIB cresceu 0,6% no primeiro trimestre, talvez cresça um pouco mais no segundo. Agora, esse processo pode sofrer um impacto. Um abalo em função da (falta de) confiança, que impacta o investimento. É necessária uma reversão dessa confiança para a economia continuar no processo de recuperação gradual.
Estado: A economia deu uma parada em junho e julho, não?
Tombini: Não tem dados ainda. Mas parece que não está bom, não.
Estado: Como o governo pode reagir? A inflação ainda está pressionada...
Tombini: O Banco Central tem a missão de trazer a inflação para a meta e é isso que estamos fazendo. O crescimento tem um número grande de variáveis, mas acho que passa por restabelecer a confiança. Também tem os investimentos públicos, que estão no forno.
Estado: O outro lado da confiança, além do trabalho do Banco Central, é o ajuste das contas públicas. O governo tem sido muito cobrado para fazer um ajuste fiscal. Mas os sinais que ele dá são confusos. Uma hora parece concordar, na outra recua. Na sua opinião, é momento de um ajuste fiscal mais rigoroso ou com esses dados de crescimento é melhor esperar?
Tombini: É o governo que tem de definir isso. Nós não participamos desse processo, não cabe ao Banco Central. Agora, o que o governo definir, tem de definir claramente, dizendo como vai chegar - isso é que é importante. O ajuste fiscal não é insensível ao estado da economia. Tanto é que (o superávit primário) já não é mais 3,1%, está em outro nível. O importante é que o governo defina e, quando definir, forneça um detalhamento para a sociedade sobre como isso vai ser alcançado.
Estado: Essa indefinição atrapalha o trabalho do BC?
Tombini: Não. O Banco Central toma isso como um dado exógeno. É assim, vai ser assim, vai continuar sendo assim. Quem define é o governo, para a (retomada da) confiança é importante que defina e diga como vai ser alcançado. Nós, lá no Banco Central, vamos pegar esse dado e colocar na nossa conta para definir a política.
Estado: Os economistas, em geral, estão pessimistas com o futuro imediato. Alguns, mais 'apocalípticos', falam em uma crise séria no ano que vem. Os mais 'otimistas' falam em crescimento mais baixo e a inflação ainda alta. Qual é o seu cenário?
Tombini: A inflação mais baixa, certamente. É o cenário factível. Vamos ver essa inflação mais baixa já refletida nas expectativas (projeções de mercado).
Estado: A taxa de inflação vai bater no topo da meta (6,5%) este ano?
Tombini: Este ano já falei o que vamos entregar, que é uma inflação mais baixa que a do ano passado. Foi 5,84% (em 2012), este ano vai ser mais baixa. A inflação acumulada em 12 meses atingiria um pico em junho, o que de fato ocorreu. Depois, começaria um processo de queda durante uns dois meses, influenciada por questões sazonais, pela queda de preços dos alimentos, e depois teve a redução das tarifas (de ônibus) que foi um "plus" no processo. Mas a nossa política de combate à inflação está mirando no médio prazo. Precisamos entrar no ano que vem já com a inflação mais baixa e ganhar nesse processo. Temos chance de fazer isso nos próximos dez meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.