Economia

Para S&P, desafio do Brasil é restabelecer credibilidade

Segundo a agência, também é necessário aumentar os investimentos na economia real, elevando o nível de crescimento do país


	Standard & Poor's: segundo agência, o problema do país não é de solvência, e sim de credibilidade
 (AFP/Stan Honda/AFP)

Standard & Poor's: segundo agência, o problema do país não é de solvência, e sim de credibilidade (AFP/Stan Honda/AFP)

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Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2014 às 08h15.

São Paulo - O maior desafio do próximo presidente brasileiro será restabelecer a credibilidade e aumentar os investimentos na economia real, elevando o nível de crescimento do País, afirmou a diretora de ratings soberanos da Standard & Poor'’s, Lisa Schineller, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Segundo ela, esse desafio se divide em duas partes, a primeira compreendendo medidas macroeconômicas, como maior consistência e transparência fiscal, e a segunda, com ações microeconômicas, a exemplo da simplificação tributária.

"A melhora da credibilidade terá impacto positivo nos investimentos, não só de portfólio, mas também naqueles direcionados à economia real", disse. Além da questão fiscal, Lisa ressaltou a importância do recuo na taxa de inflação.

No âmbito das políticas microeconômicas, a diretora da S&P citou ainda a importância de avanços na educação e na infraestrutura, além de defender medidas para agilizar o andamento de projetos e para reduzir as incertezas que envolvem contratos. "É necessário reduzir o custo Brasil e ter uma agenda econômica para melhorar a produtividade", acrescentou.

Reconhecendo que mudanças macroeconômicas já foram mais urgentes e que o País está melhor do que no passado, Lisa apontou que houve uma deterioração fiscal, na inflação e na credibilidade da política econômica, apesar de o País "ainda ter pontos fortes compatíveis com o grau de investimento".

Sobre os desafios impostos pelo cenário internacional, que o governo tem apontado como principal entrave para o crescimento do Brasil, Lisa avalia que o exterior é menos favorável, mas alerta que essa "é uma situação permanente".

"A China vai continuar crescendo a taxas menores", exemplificou, emendando com críticas aos aumentos de custos que ocorreram no mercado de trabalho. "Esses custos tiveram impacto forte na competitividade, sem avanços na agenda de reformas para tentar compensar isso", pontuou.

Reformas

De acordo com Lisa, para o Brasil melhorar sua perspectiva, precisa de uma política microeconômica que evite os obstáculos como esse do aumento de custos e perda de competitividade.

"Não é fácil avançar nas reformas no Brasil, mas o próximo presidente tem de fazer coligações com diversos partidos para conseguir", disse, ao comentar o relatório intitulado "Quais desafios o próximo presidente do Brasil provavelmente vai enfrentar?", divulgado na segunda-feira, 15.

"Baixamos a nota do Brasil em março e mudamos a perspectiva para estável. Ainda vemos pontos fortes compatíveis com o grau de investimento", disse Lisa, acrescentando que a dívida externa líquida e a composição da dívida brasileira são muito mais fortes hoje do que no passado. Assim, segundo ela, o problema do País não é de solvência, e sim de credibilidade.

Na percepção da diretora da S&P, a deterioração do ambiente econômico do Brasil encontra limites nas próprias instituições do País, que demarcam a política do governo. Entre elas estão os representantes do setor privado, a imprensa e o próprio Banco Central, "que aumentou os juros por mais ou menos um ano para impedir aumento da inflação".

"É um exemplo de limite importante para nós", disse Lisa, afirmando ainda que a S&P não vislumbra uma nova deterioração das condições econômicas muito forte à frente.

Ainda assim, a executiva alertou para a necessidade de que o próximo presidente tenha uma agenda proativa, que garanta a redução do custo Brasil, com ações que melhorem a infraestrutura, o nível de investimentos e a reforma tributária. "Qualquer governo e presidente tem de fazer coligações com outros partidos, com compromisso de avançar", disse, lembrando que essa foi a receita do México, onde o presidente Enrique Peña Nieto negociou com vários partidos para conseguir implementar reformas.

"Não será fácil avançar com as reformas no Brasil, mas é necessário negociações", acrescentou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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