Economia

Credibilidade do BC fica abalada após decisão sobre juros

Analistas avaliam que será difícil recuperar a confiança nos próximos comunicados feitos pelo banco


	Credibilidade em xeque: analistas avaliam que será difícil recuperar a confiança nos próximos comunicados feitos pelo banco
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Credibilidade em xeque: analistas avaliam que será difícil recuperar a confiança nos próximos comunicados feitos pelo banco (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2016 às 08h08.

São Paulo - Para o mercado financeiro, a súbita mudança de rumo do Banco Central em relação aos juros - até a terça-feira, 19, todos os sinais apresentados eram de que haveria uma elevação da Selic - deixou no ar a impressão de que houve ingerência política na decisão.

Por isso, analistas avaliam que será difícil recuperar a confiança nos próximos comunicados feitos pelo banco.

Para Luiza Sampaio Loss, economista-chefe da Somma Investimentos, se o Banco Central tivesse elevado a Selic em 0,25 ponto porcentual, a sua credibilidade teria sido menos afetada.

"Depois da mudança de sinalização nesta semana, de elevação da taxa básica para manutenção, uma alta de 0,25 ponto porcentual mostraria que o BC não está tão 'dovish' (suave, mais inclinado a baixar ou manter os juros) nem tão 'hawkish' (agressivo, com tendência a subir os juros)", disse.

Segundo ela, com a manutenção da Selic em 14,25%, o Copom perde credibilidade na sua comunicação para as próximas reuniões e reforça a percepção de que está sem prazo para convergir a inflação para o centro da meta, de 4,5%.

"Antes, eles falavam em convergir a inflação para a meta em 2016, depois passaram para 2017 e agora nem falam mais em 2017. Parece que não tem prazo para atingir a meta", afirmou.

"Se a manutenção da Selic fosse uma decisão independente, não seria ruim. Mas ela veio depois de uma comunicação desastrosa de Tombini sobre o FMI, quando ele praticamente telegrafou a decisão de hoje (ontem)", disse Adriano Gomes, sócio da Méthode Consultoria e professor de finanças da ESPM.

Ele fez referência ao comunicado do presidente do BC, Alexandre Tombini, na terça-feira, dizendo que a forte deterioração nas expectativas do FMI para a economia brasileira seria levada em conta pelo Copom.

Segundo Gomes, a forma como a decisão foi tomada só confirmou o temor dos mercados em relação à falta de independência da instituição.

"Além disso, aumenta a antipatia do mercado com Tombini, já que ele mudou a comunicação do BC entre a última reunião e esta. Há o risco de todas as declarações da autoridade monetária caírem em descrédito", disse.

A opinião do economista-chefe da Garde Asset Investimentos, Daniel Weeks, vai no mesmo sentido. Segundo ele, a mudança na comunicação do Banco Central às vésperas da reunião Copom deu uma conotação de interferência política na decisão de manutenção dos juros.

"Havia dúvidas genuínas para não subir os juros. A questão foi o jeito como a decisão foi feita, principalmente após a nota do Tombini sobre o FMI. Acabou dando uma conotação de interferência política no Comitê, o que é péssimo para a credibilidade do BC", afirmou.

Para Weeks, o BC vinha dando sinalizações "hawkish" desde a ata da última reunião, o que fez com que os investidores se posicionassem para um novo ciclo de alta dos juros.

"Mas o BC mudou o tom e sinaliza para um período de manutenção da Selic. Agora, vai acabar interferindo na expectativa de inflação e provocando uma maior inclinação da curva de juros", disse.

Na avaliação do economista, a decisão também abala a imagem da instituição. "Mas, politicamente, Tombini está forte, já que ele fez o que a base de sustentação do governo queria", disse.

Autonomia

A decisão anunciada nesta quarta-feira pelo BC, depois de vários ruídos na comunicação, vai elevar a percepção do mercado de que o BC perdeu a autonomia operacional, disse Italo Lombardi, economista-sênior do banco Standard Chartered em Nova York.

"Para o mercado, o Brasil já não tinha mais a âncora fiscal e agora pode ter perdido a última âncora que restava, que era a política monetária", comentou. 

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