Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, durante Fórum Econômico Mundial em São Paulo (Leonardo Benassatto/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de março de 2018 às 17h17.
Última atualização em 14 de março de 2018 às 18h11.
São Paulo - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acredita que o maior risco para a economia global é de um aumento súbito da inflação que exija taxas de juros mais altas.
Ele não crê, porém, que este seja o cenário mais provável. A volatilidade maior dos mercados no mês passado refletiu esse temor, que agora parece ter se dissipado.
As declarações foram feitas durante debate no Fórum Econômico Mundial, realizado no hotel Grand Hyatt nesta quarta-feira (14) em São Paulo.
Andres Velasco, ex-ministro da Fazenda do Chile e professor da Universidade de Columbia, nota que a maior parte das medidas de inflação está comportada. Ele está mais preocupado com perdas rápidas de confiança.:
“É algo que pode mudar em um instante", diz ele. "[Os investidores] saíram de Davos sentindo que o mundo era um lugar muito seguro e no mesmo momento os mercados começaram a afundar’.
O risco nesse sentido pode vir de uma guerra comercial diante da decisão do governo americano de colocar taxas extras sobre o aço e o alumínio estrangeiros, sendo o Brasil um dos mais afetados.
Meirelles ecoou o que o presidente Michel Temer disse mais cedo no mesmo evento: o governo brasileiro pode entrar na OMC contra os EUA, até mesmo junto com outros países, mas antes pretende negociar diretamente.
"A administração americana está falando em negociar, mas o que eles querem negociar? A posição precisa ser clara", diz Meirelles.
Outro tópico de debate foi se o crescimento global, amplamente visto como "sincronizado" pela primeira vez desde a crise financeira de 2008, seria sustentável ou não.
Hans-Paul Bürkner, ex-presidente do Boston Consulting Group, disse que não se pode fazer o erro de comparar o cenário atual com algo que não deve ser repetido: o crescimento pré-2008, que se mostrou uma bolha.
Outro debate foi sobre possíveis formas de aumentar o PIB potencial e acelerar os níveis de crescimento sem causar pressões inflacionárias.
Velasco não acha que a inovação é uma boa aposta, citando a famosa frase de Robert Solow, vencedor do Nobel em 1987: “Vê-se computadores em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade”.
“Talvez a nova onda de inovação faça isso, mas as outras ondas não fizeram. Vamos continuar torcendo, mas não colocaria dinheiro nisso”, diz Velasco.
Outra aposta seriam as mudanças no mercado de trabalho, onde o desafio maior seria a viabilidade política.
"Causamos muita ansiedade falando em reforma do mercado de trabalho. A palavra "reforma" geralmente significa que alguém quer tirar algo de você. Claro que precisamos reduzir regulações e tornar os mercados mais flexíveis [mas] vamos desregular passo a passo, apenas", diz Bürkner.
Velasco concorda, mas aponta que "se fizer bem feito, é bom em termos de redução da pobreza e desigualdade e bom até para os sindicatos".
Seu exemplo maior é o esquema de "flexisecurity" da Dinamarca, um sistema "generoso, mas rigoroso" que mistura liberdade para contratar e demitir e obrigação de retreinamento com amplas garantias de seguro-desemprego para que não haja perda de renda nas transições.
Também foram discutidas formas de aumentar a participação feminina na força de trabalho e o debate terminou com uma única pergunta da plateia.
Uma participante da Bolívia apontou para incoerência de ter apenas homens em um painel que debate questões relacionadas às mulheres.
Erik Schatzker, editor da Bloomberg nos EUA que moderou a mesa-redonda, disse que há um esforço grande do Fórum para aumentar a participação feminina, que foi infrutífero no caso específico deste painel.
Ele defendeu que os dois gêneros devem cooperar para resolver o problema e disse que seria pior se os homens presentes tivessem simplesmente ignorado o tema.