Lagarde: "A UE deve fazer muito mais para explicar de maneira mais transparente o que está fazendo, o que isso significa para a população" (Yuri Gripas/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2016 às 11h38.
Uma nova recessão mundial é improvável, apesar das fortes turbulências geradas pelo voto do Brexit no Reino Unido e no restante da Europa, indicou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em entrevista exclusiva à AFP.
A votação britânica a favor da saída da UE revela, além disso, um certo desencanto do cidadão britânico, o que deve levar a União Europeia a ser mais transparente, segundo palavras de Lagarde.
"Esta é uma das principais fontes de perigo por ora, mas não acreditamos que uma recessão mundial seja muito provável", afirmou, ao ser indagada sobre o impacto da decisão britânica.
Os efeitos imediatos dessa votação serão sentidos no Reino Unido, com réplicas na zona euro, afirmou Lagarde, pedindo a britânicos e europeus que acertem o mais rápido possível um calendário de separação para diminuir as incertezas.
"A palavra-chave neste tema do Brexit é incerteza, e quanto mais durar esta incerteza, maior será o perigo", afirmou a funcionária, que acaba de iniciar um segundo mandato à frente da instituição financeira multilateral.
O voto britânico expressa, além disso, um certo nível de desencanto vinculado à complexidade e opacidade das instituições europeias, afirmou.
"A UE deve fazer muito mais para explicar de maneira mais transparente o que está fazendo, o que isso significa para a população, os custos e benefícios de sua ação", acrescentou.
Pediu, no entanto, aos países da União Europeia que deixem de atacar Bruxelas por tudo que de ruim acontece.
"É possível que eu mesma tenha sido culpada de uma atitude deste tipo", admitiu a ex-ministra da Economia da França (2007-2011).
"Ajuda aos perdedores"
Lagarde afirmou que a decisão britânica pode obedecer igualmente à natureza da consulta. Nos referendos, os eleitores geralmente não respondem à pergunta que lhes é feita.
"Por mais simples que seja a pergunta, as pessoas se aferram aos temas mais presentes", analisou.
Apesar da incerteza econômica, a diretora-geral do FMI se mostrou otimista.
"O Brexit", afirmou, "pode paradoxalmente ser um catalisador que empurre os países da UE a aprofundar sua integração econômica".
O FMI deve ajudar, por outra parte, os "perdedores da globalização", apesar de continuar com seu papel de guardião da ortodoxia orçamentária, afirmou ainda.
"Mesmo quando bancamos os maus, devemos igualmente ser sensíveis e ter uma dimensão humana", declarou.
Geralmente criticado pelas receitas de autoridade que preconiza, o Fundo deve responder às falhas da globalização econômica e da fenomenal aceleração do intercâmbio comercial no planeta, assinalou.
"A globalização produziu muitas coisas boas e tirou muitas pessoas da pobreza, mas também gerou perdedores, cujos postos de trabalho foram transferidos para lugares de produção mais baratos", destacou.
O FMI pode, segundo ela, ajudar estas populações prestando mais atenção às desigualdades excessivas, ao lugar das mulheres, à mudança climática ou à corrupção", garantindo a solidez das "redes de segurança sociais".
Esta mudança de enfoque pode permitir que se chegue a uma globalização aceitável, que não gere um aumento do PIB, mas permita atender "a quem correr o risco de sair como perdedor", concluiu.