Murilo Portugal, presidente da Febraban: "alguém já disse que 'você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água'" (Divulgação/FMI)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2012 às 11h48.
São Paulo - A mudança nas regras da caderneta de poupança, que entrou em vigor na sexta-feira, funcionou como estímulo adicional para o mercado trabalhar com a expectativa de novos cortes na Selic. Mas a redução esperada da taxa básica de juros pode não destravar a concessão de crédito pelos agentes econômicos de uma maneira que cumpra o objetivo do governo. "Alguém já disse que 'você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água'", observa a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em uma cutucada indireta à estratégia do governo de tentar estimular a fluidez do canal de crédito com redução das taxas.
"É possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tanto dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas", pondera a entidade em seu Informativo Semanal Bancário.
Após a alteração da remuneração da caderneta de poupança eliminar o empecilho para novas reduções da Selic, o governo já revelou que continuará empenhado nas negociações para diminuição do custo dos empréstimos. Mas o informe da Febraban mostra que os agentes econômicos seguem refratários à pressão governamental diante do quadro econômico.
"Os números da nossa pesquisa de projeções seguem apontando uma postura cautelosa dos agentes econômicos, que reflete precisamente a deterioração do cenário externo, combinada com um nível ainda elevado de inadimplência no mercado doméstico", destaca a entidade. Entre as projeções colhidas pela entidade, as operações de crédito devem crescer 16,2% em 2012, ritmo inferior aos 16,6% no levantamento de março de 2012.
O dado reflete que a seletividade na concessão de novos empréstimos continua, o que é considerado um fator negativo para estimular a economia como pretende o governo. Recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou que os bancos orientaram suas agências a serem mais seletivas na concessão de crédito à população, o que para ele é um fator negativo e que não deveria ocorrer num contexto de economia com inflação sob controle e taxa Selic em trajetória de queda desde agosto. "A solução para esse problema (inadimplência) é aumentar o volume de crédito e reduzir os spreads", disse o ministro.
Para a Febraban, porém, a aceleração do ritmo de concessões depende, sobretudo, da melhora econômica doméstica e externa. "A piora nos indicadores (especialmente externos) abre espaço para quedas adicionais dos juros básicos, mas ao mesmo tempo parece impor uma cautela adicional aos agentes econômicos", destaca o texto da Febraban.
Inadimplência maior nos bancos
Balanços divulgados pelos bancos mostraram níveis maiores de inadimplência, um fator que tem represado as novas concessões. No Itaú Unibanco, o indicador, considerando atrasos nos empréstimos acima de 90 dias, fechou março em 5,1% ante 4,9% do último período de 2011. No Bradesco, o índice terminou março em 4,1%, acima dos 3,9% do quarto período do ano passado. Em março de 2011, o indicador estava em 3,6%. O índice de inadimplência do Banco Santander foi de 4,5% no primeiro trimestre deste ano, 0,5 ponto porcentual acima do registrado em igual período do ano passado e no quatro trimestre de 2011 (4,0%).
No Banco do Brasil, o indicador fechou março em 2,2%, acima dos 2,1% de dezembro e do primeiro período de 2011. Mas como o banco tem sido usado pelo governo como uma ferramenta de convencimento para que os bancos privados reduzam suas taxas finais nos empréstimos, a instituição elevou seu provisionamento em 36% para créditos de recuperação duvidosa.
Corte maior da Selic em 2012 e alta maior em 2013
A Pesquisa de Projeções e Expectativas da Febraban mostrou ainda resultados distintos em relação ao futuro da política monetária no Brasil, apontando uma previsão de queda maior da taxa básica de juros neste ano, mas elevação mais forte em 2013.
Os bancos revisaram a projeção para a Selic do final deste ano para 8,5% ao ano, de 9% ao ano no levantamento de março. A revisão foi motivada pelo teor da ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada no dia 26, pela modificação na remuneração da poupança, indicadores moderados de atividade doméstica e renovação das preocupações sobre o cenário externo.
Mas cresceu bastante a parcela dos que esperam que a Selic subirá mais em 2013. Para 59,3% dos economistas, a Selic voltará ao patamar de 10% ao ano em dezembro do próximo ano. Na pesquisa anterior, 44,8% esperavam que a Selic subiria para 9% ao ano no fim de 2013.
A sondagem não constatou piora da expectativa de inflação, que recuou de 5,3% para 5,1% no fim deste ano e ficou estável em 5,5% para 2013. A previsão de crescimento do Produto Interno Bruto recuou de 3,3% para 3,2% em 2012 e permaneceu em 4,2% para 2013.