Homem caminha em frente de agência do Bradesco no Rio de Janeiro (Pilar Olivares/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de setembro de 2019 às 17h04.
São Paulo - O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, disse nesta sexta-feira, 6, que a agenda de reformas brasileira é a mais ambiciosa do mundo emergente. "É preciso entregar", afirmou a jornalistas, ressaltando que para acelerar o crescimento brasileiro, o setor privado precisa "entrar no jogo".
"Se a economia não cresce e com inflação estando abaixo da meta, não há porque não reduzir juro", disse o economista.
O banco reduziu a estimativa da Selic este ano de 5% para 4,75%.
Para o Produto Interno Bruto (PIB), a estimativa é de expansão de 0,10% no terceiro trimestre e de 0,50% no quarto período do ano. "O PIB do quarto trimestre terá o impulso do FGTS", disse ele.
O Bradesco estima que o "valor justo" do câmbio é ao redor de R$ 3,80. "O câmbio hoje espera o crescimento para voltar ao normal", comentou.
O economista-chefe do Bradesco disse ainda a jornalistas que a variável que falta para investidores estrangeiros entrarem no País é um maior crescimento da economia. "O Brasil não tem Produto Interno Bruto para mostrar ao investidor estrangeiro", comentou.
Ele disse que o Brasil perdeu ao redor de US$ 50 bilhões nos últimos meses de recursos externos. Uma das explicações é que muitas empresas passaram a trocar dívida externa por dívida em real, por conta dos custos atrativos de captar recursos no mercado de capitais brasileiro.
Outro fator é a redução do diferencial de juros entre o Brasil e mercados desenvolvidos. Um terceiro fator que ainda pesa é o fato de o Brasil não ser mais classificado como grau de investimento.
Nas debêntures, Honorato ressalta que empresas estão conseguindo captar com papéis de sete anos com taxas ao redor de 106% do CDI.
Perguntado sobre os juros altos no crédito bancário, o economista do Bradesco disse que modalidades como cartão de crédito e cheque especial têm taxas elevadas porque são modalidades sem garantia. "Quem recorre ao cartão e ao cheque especial é porque teve problemas financeiros", comentou.
Honorato ressaltou que não há barreira de entrada a bancos estrangeiros no País, embora a legislação do setor seja complexa. Uma das evidências de que não há barreiras é que o Brasil já atraiu uma série de bancos de fora, que ficaram ou não no País dependendo de suas estratégias. "Não será a maior concentração bancária que vai impedir os juros de caírem", afirmou.
O economista-chefe do Bradesco avalia que a Argentina vai seguir com a economia complicada e será um fator negativo para a atividade do Brasil nos próximos dois anos. "A Argentina não vai ajudar o Brasil a crescer nos próximos dois anos."
A previsão do banco é de contração de 1% do PIB do país vizinho, ante crescimento estável previsto anteriormente. A volta ao crescimento positivo vai depender da agenda de medidas do próximo presidente, disse o economista a jornalistas nesta sexta-feira.
Para a relação entre Estados Unidos e China, a avaliação do Bradesco é que o quadro de maior tensão pode ser mais permanente do que temporário, pois não se limita a questão comercial.
"A China está disposta a repensar seu modelo, mas no ritmo dela", disse a economista do Bradesco, Fabiana D'Atri. "A guerra comercial entre EUA e China vai muito além de discussão sobre tarifas."
"A China vai se manter forte nas negociações", afirmou ela, destacando que Pequim concordou em se reunir com os Estados Unidos em outubro, mas ao mesmo tempo recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC). "A China tem em mente que a discussão com os EUA é de longa data e envolve transferência tecnológica."
A previsão do Bradesco é de desaceleração da economia chinesa, que deve crescer 5,8% em 2020 e há cenários que esse número pode convergir para perto de 5% mais à frente. Uma desaceleração da expansão chinesa tem impacto importante para toda a economia mundial, disse ela. "Quando mercado começa a precificar menor crescimento global também insere um menor crescimento chinês."