Economia

Países podem estar chegando ao limite dos gastos com covid. E agora?

A crise de 2008 talvez tenha sido mais fácil porque os governos sabiam o que era necessário para resgatar uma montadora, diz Ángel Gurria, da OCDE

Jose Ángel Gurria, diretor da OCDE: “A questão é quantos países podem realmente fazer isso e manter a dívida dentro de um limite razoável. A resposta é: não muitos.” (Bloomberg/Bloomberg)

Jose Ángel Gurria, diretor da OCDE: “A questão é quantos países podem realmente fazer isso e manter a dívida dentro de um limite razoável. A resposta é: não muitos.” (Bloomberg/Bloomberg)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 09h02.

Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 11h00.

A economia global enfrenta um momento decisivo na pandemia de covid-19, pois a capacidade dos governos de cobrir os crescentes custos se aproxima do limite, alertou o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ángel Gurria, há 14 anos no comando da OCDE, com sede em Paris, disse que embora os governos estejam certos em abrir as torneiras de gastos neste ano para combater a pior recessão da história, muitos estão perto de ficar sem munição fiscal. Sem maiores esforços de coordenação, o próximo estágio da crise poderia ser uma fragmentação da economia global, com o aumento das lacunas entre países ricos e economias sem recursos.

Os comentários de Gurria soam o alarme para líderes mundiais antes da reunião do G-20 no sábado, em meio à preocupação de que a recuperação global possa ser prejudicada.

“No momento, realmente vemos as limitações de algumas das capacidades fiscais com as realidades econômicas”, disse Gurria em entrevista à Bloomberg. “Não veremos o estrago feito nos últimos meses -- veremos nos próximos meses.”

A China é o único país do G20 com projeção de alta no crescimento neste ano, segundo a OCDE. (Arte/Bloomberg)

Com planos de se aposentar no próximo ano, Gurria, de 70 anos, foi testemunha de muitas das discussões acirradas entre líderes e bancos centrais enquanto tentavam salvar a economia global de várias crises neste século. O surto de coronavírus é apenas o mais recente em uma série de turbulências, como os choques do crash financeiro global de 2008, a crise da dívida da zona do euro e até questões estruturais de longo prazo, como desigualdade e desemprego.

Refletindo sobre seu mandato na OCDE, Gurria diz que houve “altos e baixos” no êxito do G-20 em enfrentar os desafios. Embora o grupo às vezes tenha mostrado uma frente unida, também tem sido fonte de tensão em questões como política comercial, mudança climática e desvalorização cambial.

Outro problema para os líderes do G-20 agora é avaliar quanto precisará ser gasto na crise da covid. Talvez tenha sido mais fácil em 2009, disse Gurria, pois os governos sabiam o que era necessário para resgatar uma montadora ou pagar credores de um banco falido.

“A grande diferença com a situação atual é que você não tem um custo conhecido, não tem um número finito”, disse Gurria, economista e ex-ministro das Finanças do México.

Essa ideia aterroriza governos, muitos dos quais acumularam dívidas recordes e já estudam maneiras de colocar as contas em ordem. Para outros, é muito cedo para iniciar esse processo e o foco deve permanecer no combate à crise.

Atividade econômica global volta a cair com segunda onda de covid-19, sobretudo nos países da Europa. (Bloomberg/Bloomberg)

Ainda assim, o chefe da OCDE disse que as políticas fiscal e monetária trabalharam melhor em conjunto na pandemia de Covid-19 do que na crise financeira. Os bancos centrais superaram as barreiras na compra de ativos, e governos intervieram com enormes garantias e programas de licença no mercado de trabalho que propiciam um “continuum”.

“A questão é quantos países podem realmente fazer isso e manter a dívida dentro de um limite razoável”, disse. “A resposta é: não muitos.”

(Com a colaboração de Tom Hall)

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