Economia

Países pobres podem pagar US$168 bi em juros devido a mudança climática

Pesquisa da ONU aponta que tempestades, enchentes e secas podem destruir lavouras e reduzir a produção do país

Nações que dependem muito da agricultura devem sofrer com o aumento das temperaturas globais (BenGoode/Thinkstock)

Nações que dependem muito da agricultura devem sofrer com o aumento das temperaturas globais (BenGoode/Thinkstock)

R

Reuters

Publicado em 2 de julho de 2018 às 16h32.

Última atualização em 3 de julho de 2018 às 12h51.

Londres  - Países pobres podem ter que pagar até US$ 168 bilhões a mais de juros ao longo da próxima década, já que eventos climáticos extremos causados pela mudança climática afetam sua avaliação de crédito, mostrou um estudo divulgado nesta segunda-feira (02).

Nações que dependem muito da agricultura devem sofrer com o aumento das temperaturas globais, que provocam mais tempestades, enchentes e secas que podem destruir lavouras e reduzir a produção, de acordo com uma pesquisa encomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

As plantações de arroz do Vietnã estão vulneráveis à elevação do nível dos mares, enquanto a produção de milho da Guatemala pode ser prejudicada por secas, e tempestades tropicais são uma ameaça à indústria turística de Barbados, disse o documento.

Tais riscos elevam os custos dos empréstimos porque os credores cobram mais, disse Charles Donovan, um dos autores do estudo, à Thomson Reuters Foundation.

"Os investidores... começaram a reconhecer que a mudança climática é um amplificador destes riscos (e que) precisa ser compensada", explicou Donovan, que comanda o centro de finanças climáticas do Imperial College Business School de Londres.

A pesquisa é a primeira a analisar o elo entre o aquecimento global e os perfis de crédito e se concentrou em membros do Fórum de Vulnerabilidade Climática, uma coalizão dos 48 países mais afetados pelo aquecimento global, que vão do Afeganistão a Fiji.

O estudo revelou que, para cada US$ dez  que estas nações pagaram em juros na última década, um dólar se deveu à vulnerabilidade climática.

Isso se traduziu em custos extras de US$ 62 bilhões  - valor que poderia pagar o reflorestamento de 20% da Floresta Amazônica, e que pode chegar a U$ 168 bilhões ao longo da próxima década, disse o estudo.

"Integrar o risco climático às decisões financeiras é necessário, mas a lógica inaceitável dos mercados é transferir os custos para os mais pobres do mundo", disse Simon Zadek, conselheiro especial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O investimento em projetos de adaptação, como os de infraestrutura de proteção contra enchentes e iniciativas de plantio de árvores, pode ajudar a compensar o problema, disse Ulrich Volz, chefe do departamento de economia da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres.

"Eles não somente ajudarão países vulneráveis a lidar melhor com os riscos climáticos, mas também ajudarão a reduzir o custo de seus empréstimos", disse Volz, coautor do estudo, em um comunicado.

Acompanhe tudo sobre:AgriculturaClimaMudanças climáticasONU

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto