Economia

Países perdem até 30 trilhões de dólares por não educar meninas

Atualmente, 77% das meninas completam o ensino médio ao redor do mundo, o que acarreta em perdas salariais futuras e aumenta os riscos de casamento infantil

EDUCAÇÃO: historicamente, meninas estão mais fora da escola do que os meninos (Germano Lüders/Exame)

EDUCAÇÃO: historicamente, meninas estão mais fora da escola do que os meninos (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2018 às 08h23.

Última atualização em 14 de julho de 2018 às 09h29.

Uma pesquisa do Banco Mundial divulgada nesta quinta-feira 11 mostrou que impedir meninas de completar 12 anos de educação, o necessário para completar o ensino médio, custa aos países entre 15 a 30 trilhões de dólares, perdidos em produtividade e ganhos ao longo da vida.

Atualmente, 89% das meninas ao redor do mundo completam a educação primária, mas apenas 77% chegam a terminar o ensino médio. O problema é que, conforme constata o estudo, completar o ensino médio faz muito mais diferença para o futuro financeiro das mulheres do que ter apenas uma educação básica.

Enquanto mulheres com educação básica ganham cerca de 14% a 19% mais do que as que nunca estudaram, aquelas com ensino médio completo ganham o dobro. Com ensino superior completo a diferença fica ainda maior: essas mulheres ganham o triplo do que as que não tiveram nenhuma educação.

Segundo o estudo, não educar as meninas é especialmente custoso não apenas pelas perdas salariais no futuro, mas principalmente pela “relação entre frequência escolar, casamento infantil e gravidez precoce”. O casamento infantil equivale a 30% da evasão escolar feminina a nível mundial. Cada ano a mais de ensino médio significaria cerca de 6 pontos percentuais a menos de chance se casar quando criança e de ter um filho antes dos 18 anos, afirma o Banco Mundial.

“Se a educação secundária universal fosse alcançada, o casamento infantil poderia ser virtualmente eliminado, e a prevalência de gravidez precoce poderia ser reduzida em até três quartos, já que a gravidez precoce caminha de mãos dadas com o casamento infantil”, diz o relatório. O ensino médio universalizado para as mulheres também acarretaria em um menor crescimento populacional, traduzido em ganhos em capital humano per capita de 3 trilhões de dólares inicialmente.

Casamento infantil

A Unicef estima que, todos os anos, 12 milhões de meninas se casem antes dos 18 anos. No Brasil, quase 3 milhões de meninas se casaram antes da maioridade nos últimos anos, colocando o país em quarto no ranking mundial, atrás apenas de Índia, Bangladesh e Nigéria. Na América Latina, o Brasil fica no topo da lista. Tal desempenho se deve, em parte, à legislação brasileira, que permite o casamento a partir dos 16 anos desde que com o consentimento dos pais.

Por aqui, dos 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola e sem terem concluído o ensino médio, 610.000 são mulheres, segundo uma pesquisa do Instituto Unibanco a partir de dados de 2016 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. Mais de um terço dessas mulheres (212.000) que abandonaram a escola antes de completar seus estudos já eram mães.

Historicamente, meninas estão mais propensas a não completar sua educação do que meninos. Um estudo da Unesco mostra que essa diferença de gênero vem caindo ao longo do tempo, mas, no geral, as meninas ainda são mais excluídas da educação do que os meninos. A diferença mais gritante está na África Subsaariana, onde para cada 100 meninos de 6 a 11 anos fora da escola, há 123 meninas sem direito à educação.

Malala

Os dados do estudo do Banco Mundial ganham especial relevância nesta semana com a vinda, pela primeira vez, da ativista paquistanesa Malala Yousafzai, uma das principais vozes pelo direito das mulheres à educação. Malala, a mais jovem ganhadora da história de um prêmio Nobel da Paz, veio ao país para falar, justamente, da importância da educação para as meninas.

“Estou aqui porque há 1,5 milhão de meninas fora da escola e quero garantir que todas tenham acesso à educação”, afirmou ela em evento promovido pelo Itaú Unibanco, em São Paulo. Na ocasião, ela anunciou sua intenção de expandir sua organização, o Malala Fund, para o Brasil. A entidade já atua em países como Afeganistão, Índia, Nigéria, Paquistão e Síria.

A própria Malala teve seu direito à educação negado quando o grupo extremista Talibã tomou o controle de sua região natal no Paquistão. Contrário à educação de mulheres, o grupo proibiu que elas frequentassem escolas e passou a promover atentados contra os colégios. Com apenas 15 anos, Malala passou a se posicionar contra a medida publicamente e foi vítima de um atentado do Talibã.

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