Economia

Países latinos "exportam" refugiados, mesmo com boa condição financeira

Mesmo devastados pela violência de organizações criminosas, países são bem vistos pelo mercado de títulos de dívida. Como isso é possível?

Refugiados em estrada do México: ondas de imigração ilegal para os EUA vem provocando a ira do presidente Donald Trump. (Jordi Ruiz Cirera/Bloomberg)

Refugiados em estrada do México: ondas de imigração ilegal para os EUA vem provocando a ira do presidente Donald Trump. (Jordi Ruiz Cirera/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 22 de junho de 2019 às 17h45.

Última atualização em 22 de junho de 2019 às 17h45.

Honduras, Guatemala e El Salvador são, de maneira geral, países devastados pela violência de organizações criminosas, tráfico de drogas e extrema pobreza. São esses elementos que impulsionaram as ondas de imigração ilegal para os Estados Unidos, provocando a ira do presidente Donald Trump.

E, no entanto, o mercado de títulos de dívida vê esses países - especialmente Honduras e Guatemala - como investimentos estáveis ​​e quase seguros. Em alguns casos, esses governos podem tomar empréstimos com taxas semelhantes às de potências regionais, como Brasil e México.

É algo estranho, que soa quase improvável. E revela uma verdade surpreendente sobre esses países: todos têm contas fiscais sólidas.

Como isso é possível em países com tamanha pobreza? Porque destinam muito pouco dinheiro a programas sociais básicos. Com isso, esses governos não apenas economizam recursos, permitindo controlar seus déficits orçamentários, como também acabam incentivando os pobres – os que mais se beneficiariam de maiores gastos com saúde ou moradia - a emigrar.

Isso, por sua vez, tem uma vantagem adicional: os migrantes enviam quantidades crescentes de dólares para os familiares que ficaram, o que gera um fluxo constante de divisas, o pilar de suas economias. (Para uma simples comparação, esse fluxo é aproximadamente 30 vezes maior do que a ajuda financeira que um frustrado Trump suspendeu para esses países esta semana.)

"A migração faz parte do modelo", disse Seynabou Sakho, diretor do Banco Mundial para a América Central. "Um país pode não ter um grande déficit, mas, ao mesmo tempo, as necessidades da população não estão sendo atendidas."

Representantes dos ministérios da Fazenda e gabinetes presidenciais de El Salvador, Honduras e Guatemala não responderam aos pedidos de comentários.

Sakho e sua equipe realizam no Banco Mundial o que chamam de estudos de proteção social. Eles tentam medir a ajuda que os governos proporcionam aos pobres e vulneráveis e dividem os estudos em vários indicadores-chave: redução da pobreza, acesso à ajuda do governo e o impacto dessa assistência.

Os três países América Central, chamados de Triângulo do Norte, se classificam no piso da escala em cada uma dessas categorias.

O Banco Mundial também monitora os gastos sociais em uma base per capita. Em El Salvador, o valor era de US$ 562. Era ainda menor em Honduras, de US$ 278, e na Guatemala, de US$ 258. Os valores são apenas uma fração dos US$ 2.193 gastos na Costa Rica ou dos US$ 2.269 no Brasil.

O Banco Mundial não atualiza esse conjunto de dados desde 2012, mas analistas dizem que há poucos sinais de melhora. Nepotismo e corrupção, dizem, têm aumentado o déficit, desviando fundos destinados aos pobres. A organização Transparência Internacional classifica os três países na metade inferior de seu Índice de Percepção de Corrupção, com a Guatemala no quartil mais baixo.

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