Economia

Desigualdade de renda não para de subir há 4 anos no Brasil, diz FGV

Nem mesmo no pico histórico de desigualdade em 1989 a renda se concentrou por tanto tempo seguido, diz estudo com base na PNAD Contínua do IBGE

Brasileiros: "Nem em 1989, que constitui o pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos", destaca o estudo. (Igor Alecsander/Getty Images)

Brasileiros: "Nem em 1989, que constitui o pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos", destaca o estudo. (Igor Alecsander/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 12h03.

Última atualização em 11 de maio de 2020 às 18h49.

São Paulo - A desigualdade de renda no Brasil está aumentando há 17 trimestres consecutivos, o maior período já documentado pela série histórica, segundo o estudo "Escalada da Desigualdade", do economista Marcelo Neri, do FGV Social, divulgado nessa quinta-feira (15).

"Nem mesmo em 1989, que constitui o nosso pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos", destaca o estudo feito com base em dados da PNAD Contínua do IBGE.

A alta da desigualdade de renda começou no primeiro trimestre de 2015, na comparação com o mesmo período de 2014. A partir dai continuou subindo por 17 trimestres seguidos, sempre na comparação anual.

O período corresponde ao aprofundamento da crise econômica, com queda acumulada do PIB na ordem de 8% no acumulado de 2015 e 2016, e também abarca a tímida retomada registrada em 2017 e 2018.

Após quatro anos e três meses de altas consecutivas, a desigualdade de renda teve o menor avanço de abril a junho deste ano.

"É um aumento modesto que interrompe um longo período de aumento da concentração de renda do trabalho, mas mostra desaceleração da desigualdade", diz a pesquisa.

O estudo traz a evolução do índice de Gini, uma das principais medidas de desigualdade e cuja escala vai de 0 a 1. Quanto mais alto, mais desigual é o país.

O índice Gini no Brasil estava em 0,6003 no último trimestre de 2014, o nível mais baixo da série histórica. No entanto, vem subindo desde então e registra 0,0287 ponto a mais no segundo trimestre de 2019.

O ritmo de aumento da desigualdade de renda durante esse período é similar ao ritmo de queda observado no período de redução entre 2001 e 2014, destaca a pesquisa.

A pesquisa de Marcelo Neri também ressalta uma queda na renda média do trabalhador entre todos em idade ativa, como evidencia a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.

Do último trimestre de 2014 até o segundo de 2019, a perda acumulada foi de 3,71%. O recuo é mais forte entre jovens de 20 a 24 anos (-17,76%), seguido pelos analfabetos (-15,09%), moradores da região Norte (-13,08%) e Nordeste (-7,55%) e pessoas negras (-8,35%)

Vale lembrar que calcular a desigualdade através da renda do trabalho medida por pesquisas em domicílios familiares tem suas limitações.

Isso porque as famílias mais ricas, essenciais para o cálculo da concentração no topo, têm grande parte da sua riqueza advinda de rendimentos financeiros, que tendem a ser subnotificados.

Análises feitas com base em imposto de renda questionam a magnitude da queda da desigualdade no Brasil durante o período entre 2006 e 2012.

Procurando por mais tempo

No material da PNAD divulgado ontem pelo IBGE, é destacado o aumento no contingente de pessoas que procuram emprego formal por dois anos ou mais, que chegou ao maior patamar desde 2012.

Há no Brasil hoje 3,347 milhões de pessoas nessa situação, o que equivale a dizer que 1 em cada 4 desempregados procura trabalho há pelo menos dois anos.

Segundo o IBGE, essa realidade ajuda a explicar o aumento dos desalentados (quem desistiu de procurar emprego) e da informalidade.

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