Economia

País deixou de crescer com a crise na indústria, diz Delfim

Segundo o economista, a crise na indústria passa pela redução da participação do setor no comércio internacional


	Delfim Netto: segundo ele, o consumo passou a ser suprido pela importação
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Delfim Netto: segundo ele, o consumo passou a ser suprido pela importação (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2014 às 12h47.

São Paulo - A crise na indústria é o principal fator por trás da perda de fôlego na economia brasileira, afirmou Antonio Delfim Netto, que entre os anos 1970 e 1980 ocupou os cargos de ministro da Fazenda, da Agricultura e da Secretaria do Planejamento da Presidência.

A crise na indústria passa pela redução da participação do setor no comércio internacional e pela utilização do câmbio para substituir a política monetária e fiscal, avaliou.

"Faltou política cambial previsível. Quando controlamos a inflação pelo câmbio, desconstruímos a indústria e a possibilidade de crescer", afirmou, durante palestra promovida pela Acrefi.

"Jogamos fora o comércio para o exterior", acrescentou. Desse modo, o consumo passou a ser suprido pela importação. "Temos uma tendência à redução da produção industrial."

Delfim também explicou que o câmbio real, medido em termos de salário, passou a se valorizar de modo significativo a partir de 2007. Ele também questionou o sistema tarifário brasileiro.

Para Delfim, o sistema pune os produtores de insumo. "Hoje, o aço é mais protegido que a geladeira", exemplificou.

O ex-ministro concordou que o governo perdeu credibilidade, utilizando financiamentos questionáveis, contabilidade criativa, desarranjando a Petrobras e criando uma desconfiança mútua com os empresários. Ele também reconheceu que os subsídios e desonerações dados à indústria não surtiram os efeitos desejados.

Para Delfim, o desenvolvimento da economia somente retornará quando entendermos o novo momento do Brasil, em que não há mais mão de obra disponível.

O ex-ministro sugeriu duas alterações para o governo de Dilma Rousseff: a reforma do ICMS e a aprovação de uma proposta da CUT, que prevê que a negociação entre trabalhador e empregado esteja acima da lei, desde que respeitados todos os direitos constitucionais.

Para a reforma do ICMS, Delfim propõe um prazo de 20 dias para votar. "Já está tudo pronto, não tem mais objeção. A aprovação mudaria as expectativas de modo fundamental", afirmou. "Precisamos devolver ao empresário industrial seu espírito animal", explicou. Espírito animal é termo usado por John Maynard Keynes que está relacionado à confiança.

O economista explicou o termo em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda como um impulso espontâneo para a ação, em vez da inação. Ele acrescentou que é preciso devolver a certeza ao trabalhador de que terá emprego. "Só isso já ajudaria a voltar a produzir", disse.

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