Agência
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 14h40.
Nos grandes centros urbanos da China, o uso do dinheiro está cada vez mais sendo substituído por pagamentos digitais feitos com um simples escaneamento de QR Code. Em 2024, 73,20% das transações no país ocorreram por meio de plataformas digitais, segundo a iiMedia Research. Esse número indica uma transformação profunda no comportamento dos consumidores chineses, que aderiram massivamente às tecnologias de pagamento móvel.
O avanço das transações digitais no país não aconteceu por acaso. A popularização dos smartphones e a expansão das redes de internet criaram um ambiente propício para a adoção dessas tecnologias. Com mais de 1 bilhão de usuários de internet e uma taxa de penetração de smartphones que ultrapassa 70%, a China se tornou um terreno fértil para inovações financeiras.
Além disso, gigantes do setor, como Alipay e WeChat Pay, ofereceram soluções práticas e acessíveis para consumidores e empresas, eliminando a necessidade de dinheiro físico ou cartões bancários. Essas plataformas simplificaram os pagamentos ao integrarem serviços adicionais, como empréstimos, investimentos e até mesmo agendamento de consultas médicas, criando ecossistemas digitais completos.
A pandemia de COVID-19 acelerou ainda mais essa tendência. Restaurantes, lojas e até vendedores ambulantes passaram a aceitar pagamentos por QR Code como padrão. Em 2024, cerca de 953,86 milhões de chineses utilizavam esses serviços regularmente, tornando os pagamentos móveis parte da rotina no país. A conveniência e a segurança oferecidas por essas plataformas foram determinantes para sua adoção em massa.
Segundo a Daxue Consulting, a adoção dos pagamentos móveis na China é fortalecida por duas plataformas principais: Alipay, do grupo Alibaba, e WeChat Pay, da Tencent. No terceiro trimestre de 2023, a Alipay registrou um volume de transações de RMB 118,19 trilhões, enquanto o WeChat Pay movimentou RMB 67,81 trilhões. Juntas, essas plataformas responderam por mais de 94% do mercado de pagamentos móveis no país.
Alipay, lançado em 2004, foi pioneiro no setor e inicialmente criado para facilitar transações na plataforma de e-commerce da Alibaba.
WeChat Pay, lançado em 2013, se beneficiou da enorme base de usuários do WeChat, o aplicativo de mensagens mais popular da China, que também oferece redes sociais, jogos e outros serviços.
A UnionPay, tradicionalmente associada a pagamentos com cartões bancários, mantém relevância no setor. Em uma pesquisa realizada pelo Statista, 45% dos entrevistados indicaram que utilizam seus serviços, consolidando sua posição como a terceira força no mercado. Para competir com as gigantes do setor, a UnionPay também tem investido em soluções digitais.
Embora os pagamentos móveis já dominem o mercado chinês, o governo avança para uma nova fase de digitalização financeira com o yuan digital (e-CNY). Diferentemente das carteiras digitais privadas, como Alipay e WeChat Pay, essa moeda é emitida diretamente pelo Banco Popular da China e tem o objetivo de oferecer uma alternativa oficial ao dinheiro físico e às plataformas privadas de pagamento.
O e-CNY já está sendo usado para pagamentos em transportes públicos, compras no varejo e até operações de servidores públicos. Em cidades como Xangai, Shenzhen e Pequim, projetos-piloto têm testado o uso da moeda digital em diversos cenários, desde pagamentos de contas de luz até salários de funcionários públicos. Ao contrário das criptomoedas descentralizadas, como o Bitcoin, o yuan digital é controlado pelo governo e integrado ao sistema bancário do país.
Uma das principais vantagens do e-CNY é a maior segurança e estabilidade, pois é garantido pelas reservas do banco central, assegurando que cada unidade tenha um valor equivalente em reservas. Além disso, o e-CNY permite ao governo chinês maior controle e monitoramento sobre as transações financeiras, o que pode ajudar a combater lavagem de dinheiro, evasão fiscal e outras atividades ilegais.
Outro objetivo importante do e-CNY é promover a inclusão financeira, especialmente em áreas rurais onde o acesso a serviços bancários tradicionais é limitado. Com o yuan digital, mesmo pessoas sem contas bancárias podem realizar transações digitais, desde que tenham acesso a um smartphone ou outro dispositivo compatível.
Crédito: Daiane Mendes