Economia

Os recados de Campos Neto: aumento de incertezas e o risco de fim do ciclo de queda de juros

Afirmações do presidente do Banco Central sinalizam que o ciclo de queda de juros pode estar mais perto do fim, após aumento do risco com mudança da meta fiscal

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 17 de abril de 2024 às 14h19.

Última atualização em 17 de abril de 2024 às 14h21.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, foi claro ao afirmar nesta quarta-feira, 17, que as incertezas aumentaram desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). E esses riscos podem afetar o ritmo ou paralisar de queda da taxa de juros no Brasil.

Segundo ele, a maior parte dessa incerteza, que afetou o preço dos ativos no Brasil, decorre da interpretação de que a queda de juros nos Estados Unidos deve ocorrer no fim do ano ou ficar para 2025. E, em menor parte, a piora do ambiente no Brasil decorre da mudança da meta fiscal.

Internamente, Campos Neto afirmou que a perda da âncora fiscal — ou seja, do controle das contas públicas — pode trazer um custo ainda maior para a política monetária. Na prática, isso significa dizer que o ciclo de corte de juros pode estar mais perto do fim.

“Tivemos uma revisão fiscal, em direção ao que o mercado esperava. Mas o problema, e mencionamos isso, é que as âncoras fiscal e monetária são intimamente relacionadas. Se perde credibilidade, ou se há mais questionamentos sobre a âncora fiscal, fica mais caro do outro lado. [As políticas fiscal e monetária] São relacionadas. Sempre defendemos que devemos manter e perseguir a meta (fiscal), e fazer o que é necessário para atingi-la. Entendemos que houve necessidade de mudar”, disse.

O presidente do BC também sinalizou que é necessário algum tempo para entender os efeitos da mudança da meta fiscal nas variáveis observadas pelo Copom para a definição das taxas de juros.

“No fiscal, não sabemos como vai afetar a credibilidade. Temos que ver como vai afetar as variáveis importantes para nós”, disse.

Impactos sobre expectativas

Tradicionalmente, mudanças nas metas fiscais se traduzem em aumento das expectativas de inflação.

A EXAME consultou ex-diretores do BC que produzem modelos semelhantes aos da autoridade monetária para estimar a inflação de 2024 e dos próximos anos. Em todos eles as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram consideravelmente com a decisão do Ministério da Fazenda de zerar o déficit público somente em 2025 e promover um ajuste fiscal somente no próximo governo.

Campos Neto deu um recado importante sobre expectativas de inflação ou dizer que o BC terá um “trabalho difícil à frente”, mas que fará o que for necessário para ancorar as estimativas.

Segundo ele, esses dados são muito relevantes para o Copom e que fará o que for necessário para ancorar as expectativas. Com o aumento das incertezas fiscais, o risco de o ciclo de queda de juros ser interrompido aumentou.

“As expectativas de inflação são muito relevantes para nós. Não há dúvida de que é muito importante manter as expectativas de inflação ancoradas. Sabemos que teremos um trabalho difícil à frente. Vamos fazer o que for necessário para ancorar as expectativas de inflação”, disse o presidente do BC.

Com a mudança da meta fiscal, a deterioração das expectativas tende a ocorrer rapidamente. Resta saber como o BC reagirá a esse processo.

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