Economia

Os programas de apoio às empresas estão cumprindo seu papel?

O custo total dos programas de apoio às empresas no Brasil subiu de 3% para 4,5% do PIB entre 2006 e 2015

Isenções tributárias e crédito subsidiado podem ficar no passado (JuFagundes/Thinkstock)

Isenções tributárias e crédito subsidiado podem ficar no passado (JuFagundes/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de novembro de 2017 às 16h27.

Última atualização em 28 de novembro de 2017 às 18h16.

São Paulo – O governo brasileiro gasta muito para apoiar suas empresas, mas não tem retorno claro em ganhos de produtividade e criação sustentável de empregos.

Esta é a mensagem de um relatório do Banco Mundial intitulado “Um ajuste justo – propostas para aumentar eficiência e equidade do gasto público no Brasil”.

Encomendado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy ainda no governo Dilma Rousseff, o texto foi divulgado na semana passada e debatido nesta terça-feira (28) por economistas no Insper, em São Paulo.

Entre os problemas apontados estão a multiplicidade de programas que não conversam entre si, sobrevivem por inércia e não tem resultados avaliados de forma constante e rigorosa.

“Os programas são criados sem a preocupação com uma avaliação. Tem um emaranhado de programas que remontam há três ou quatro décadas e que se sobrepõe, então fica difícil de dizer a qual que se deveu o sucesso”, diz Angelo José Mont’Alverne Duarte, subsecretário do Ministério da Fazenda.

A falta de alinhamento e de coordenação dentro do setor público é o maior problema visto por Peiro Ghezzi quando era ministro da produção no Peru.

Ele diz que dar subsídios é a forma preguiçosa de estimular atividades pois compensa uma perda com outra, seja do consumidor, do fisco ou ambos. Negociar uma distância saudável entre setor público e privado também é um desafio complexo.

Xavier Cirera, economista do Banco Mundial que participou do estudo, destacou alguns programas brasileiros considera bem-sucedidos (como os da Embrapa, Fiocruz e o cartão BNDES) e concorda que o ideal seria ter mais apoio direto e menos isenções tributárias e crédito subsidiado.

O estudo do Banco Mundial mostra que o governo poderia economizar o equivalente a 1,2% do PIB reformando o Simples, um regime tributário simplificado para pequenas empresas criado para estimular a formalização.

O relatório também aponta uma possível economia de 0,4% do PIB com o fim da desoneração da folha de pagamento, que vem sendo adiada apesar das investidas do governo.

Esse tipo de reorientação é essencial para o ajuste fiscal em curso. O custo total dos programas de apoio às empresas no Brasil subiu de 3% para 4,5% do PIB entre 2006 e 2015.

E como os impostos que financiam o governo federal são em sua maior parte indiretos, que recaem mais intensamente sobre os mais pobres, incentivos mal alinhados acabam alimentando a desigualdade.

Os economistas também notaram que subsídios do tipo frequentemente impedem a chamada “destruição criativa”, permitindo a sobrevivência de empresas mal administradas, diminuindo a concorrência e puxando a produtividade geral para baixo.

Xavier confirmou que o próximo relatório do Banco Mundial sobre o Brasil sairá por volta do fim de fevereiro do ano que vem e que estará focado justamente na questão da produtividade, pois “sem ela não há melhora no médio e no longo prazo no padrão de vida da população”.

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalBanco MundialIndústriaInsperprodutividade-no-trabalhoSubsídios

Mais de Economia

Governo propõe ao Congresso mudança em estatais que pode abrir espaço no limite de gastos

Lula afirmou que tem compromisso com equilíbrio fiscal, diz presidente da Febraban após reunião

“Queremos garantir que o arcabouço tenha vida longa”, diz Haddad, sobre agenda de revisão de gastos

"Estatais não ficarão fora do arcabouço fiscal", diz Fernando Haddad