Pagar dívidas em dólar requer uma quantia maior de moeda local (Mukhina1/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 21 de junho de 2018 às 11h54.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 12h01.
A valorização do dólar e a alta dos juros nos EUA estão castigando os mercados emergentes. Investidores estrangeiros que aproveitaram a onda de ganhos nesses países em 2016 e 2017 não veem muitos motivos para ficar e estão batendo em retirada.
Essa transição não deve se reverter, dado que obrigações denominadas em dólar representam aproximadamente 75 por cento dos trilhões de dólares em dívidas de nações em desenvolvimento.
É fato que moedas mais fracas em relação ao dólar tornam as exportações desses países mais baratas no exterior, mas os efeitos financeiros negativos atropelam esse aspecto positivo, principalmente com a fuga do capital de curto prazo.
Pagar dívidas em dólar requer uma quantia maior de moeda local. O petróleo importado e outras commodities denominadas em dólar encarecem. Esse quadro já forçou autoridades no Brasil e outros países a conceder subsídios onerosos.
As nações em desenvolvimento podem escolher entre diversas estratégias para lidar com essas dificuldades, mas nenhuma delas é agradável.
O desafio é estimular o crescimento econômico, conter a inflação e a fuga de capital estrangeiro, mas administrando a insatisfação política e social para afastar o nocivo protecionismo que avança globalmente.
Países emergentes frequentemente protegem a indústria local. É comum a promessa de que a proteção será retirada quando os setores beneficiados ficarem grandes o bastante para suportar a concorrência global, mas aparentemente esse dia nunca chega.
Essa medida pode desestimular a saída de dinheiro estrangeiro e limitar a depreciação cambial. No entanto, juros mais altos diminuem a tomada de empréstimos, os investimentos e o crescimento econômico. Argentina, Indonésia e Turquia já estão fazendo isso.
A Argentina subiu o juro para 40 por cento e o Banco Central do Brasil sofre pressão para aumentar a taxa básica Selic em vista da queda de 11 por cento do real neste ano.
É uma opção impopular de eficácia questionável e que ameaça acelerar uma espiral econômica descendente.
O BC afirmou no mês passado que a falta de progresso para tratar do déficit nas contas públicas torna o Brasil mais vulnerável à volatilidade. A Grécia aprovou recentemente mais um programa de austeridade, com cortes nos benefícios previdenciários, elevação do imposto de renda e privatizações.
Além da China, muitos outros países em desenvolvimento depreciam deliberadamente suas moedas para estimular as exportações, mesmo correndo o risco de alimentar a inflação. Por sua vez, o enfraquecimento do yuan força outras nações a desvalorizar suas moedas para concorrer com a China.
O presidente americano, Donald Trump, retirou os EUA da Parceria Transpacífico (TPP), abrindo caminho para a China na Parceria Econômica Regional Abrangente, que engloba 20 nações.
A China atrai interessados ao eliminar exigências da TPP no tocante a normas trabalhistas e ambientais, disciplina de estatais, direitos de propriedade intelectual e liberdade na internet. A China também usa pressão militar para aumentar sua influência na Ásia em meio ao recuo dos EUA.
A China fez isso para segurar a queda do mercado acionário em meados de 2014. Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro repete as críticas de seu antecessor Hugo Chávez a especuladores cambiais, culpando-os pelos problemas do país.
A Malásia quer que bancos estrangeiros atuantes no país parem de especular com o ringgit no mercado offshore, alegando que o valor da moeda está sendo distorcido.
Controles como os que foram impostos durante a crise financeira asiática, no final de década de 1990, reapareceram na China. O governo teme que aquisições feitas por empresas chinesas no exterior sejam uma manobra para contornar limites à retirada de dinheiro do país, por isso as restrições foram reforçadas.
Já os controles cambiais são uma medida drástica que afasta investidores estrangeiros. No caso da Venezuela, a escassez de dólares era tamanha que a taxa de câmbio era de 111.000 bolívares por dólar no mercado negro no fim do ano passado, enquanto a taxa oficial era de 10 por dólar. Sem dólares, as importações cessaram e os venezuelanos precisam cruzar a fronteira para obter itens de primeira necessidade.
Para quem ainda deseja investir em mercados emergentes, sugiro países com moeda estável, robusto saldo em conta corrente, reservas cambiais elevadas e economia sólida, como Coreia do Sul, Malásia, Taiwan, China e Polônia.
É melhor evitar países mal administrados, como Argentina, Turquia, Brasil, Egito, Indonésia, Filipinas e África do Sul.