Economia

OCDE pede para Estados se prepararem para "tempos mais difíceis"

Pelo temor de uma guerra comercial, a OCDE pediu aos Estados que reforcem a colaboração entre si

Imagem de multidão em São Paulo: A OCDE confirmou, assim, a desaceleração do crescimento mundial, mas não alterou a projeção para este ano, a 3,7% (Germano Luders/Exame)

Imagem de multidão em São Paulo: A OCDE confirmou, assim, a desaceleração do crescimento mundial, mas não alterou a projeção para este ano, a 3,7% (Germano Luders/Exame)

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AFP

Publicado em 21 de novembro de 2018 às 14h48.

A OCDE cortou nesta quarta-feira (21), pela segunda vez em dois meses, as previsões de crescimento para 2019, ao mesmo tempo em que pediu aos Estados que se preparem para "tempos mais difíceis" e reforcem a colaboração, pelo temor, sobretudo, de uma guerra comercial.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu em dois décimos a previsão de crescimento mundial, a 3,5%. Em junho, a estimativa era de 3,9%.

A OCDE confirmou, assim, a desaceleração do crescimento mundial, mas não alterou a projeção para este ano, a 3,7%, depois de reduzir em um décimo a previsão em setembro.

"Essas projeções refletem claramente a necessidade de uma cooperação internacional", alertou o secretário-geral da organização, Angel Gurría, ao apresentar os novos dados na sede de Paris.

"O sistema internacional que rege o comércio desde o fim da Segunda Guerra Mundial enfraqueceu", disse antes de repetir que "o protecionismo não é a resposta correta".

A economista-chefe da OCDE, a francesa Laurence Boone, considerou que "o comércio é a principal ameaça" ao crescimento global.

"E a falta de diálogo é a nossa principal preocupação", acrescentou ela - em um cenário no qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou uma ofensiva contra os parceiros comerciais de seu país, sobretudo a China.

"O aumento das tensões comerciais pode pesar sobre o crescimento do comércio e do Produto Interno Bruto (PIB) e gerar ainda mais incerteza para o investimento das empresas", afirmou.

Esta guerra comercial entre Washington e Pequim também poderia acelerar a inflação - devido ao efeito que as tarifas teriam sobre o preço dos produtos -, o que causaria um aumento mais rápido do que o esperado nas taxas de juros nos Estados Unidos.

Um aperto na política monetária dos Estados Unidos é o segundo risco mais significativo para a OCDE, porque "pode ​​acelerar as retiradas de capital das economias emergentes e reduzir ainda mais a demanda", alertou Boone.

As tensões comerciais acarretam um terceiro risco: o de "uma aceleração clara da atividade na China (que) atingirá não apenas as economias emergentes, mas também as economias avançadas, se esse choque causar uma queda nos preços das ações e aumento nos prêmios de risco no mundo", sublinhou o economista.

Recuperar a confiança

Diante do risco de um freio mais brusco que o previsto do crescimento mundial, a OCDE pediu aos governos que "reforcem a cooperação e fiquem preparados para tempos mais difíceis", em especial para reagir em conjunto com medidas orçamentárias.

"Embora não se trate de nosso cenário central, pensamos que as economias mais importantes deveriam preparar desde já o terreno para uma resposta coordenada", insistiu Gurría.

Boone avaliou que uma "reativação orçamentária coordenada a nível mundial seria uma forma eficaz de reagir rapidamente a uma desaceleração maior que o previsto".

A OCDE não modificou as previsões para a economia dos Estados Unidos, que prossegue em um dos ciclos de crescimento mais longos de sua história, ao ritmo de 2,9%, este ano, e de 2,7%, em 2019.

Voltou a reduzir as projeções para a Eurozona, porém, que deve crescer 1,9%, em 2018, e 1,8%, no próximo ano, um décimo a menos em ambos os casos na comparação com as estimativas de setembro.

Alemanha e França vão crescer na mesma medida, 1,6%, este ano e no próximo.

Quanto ao Reino Unido, a OCDE manteve sua previsão de 1,3% para este ano, mas elevou dois décimos, a 1,4%, a de 2019, ano do Brexit.

Para a China, a organização também reduziu em um décimo as previsões para este ano, a 6,6%, e para 2019, a 6,3%.

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