Transporte público vazio em Pequim, China, em razão da epidemia do novo coronavírus (Aly Song/File Photo/Reuters)
Reuters
Publicado em 2 de março de 2020 às 08h11.
Última atualização em 2 de março de 2020 às 12h28.
Paris — O surto de coronavírus está afundando a economia mundial em sua pior recessão desde a crise financeira global, alertou nesta segunda-feira a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pedindo a governos e bancos centrais que lutem para evitar uma queda ainda mais profunda.
Na manhã desta segunda-feira (02), a organização reduziu sua previsão para o crescimento global em 2020 em 0,5 ponto porcentual, de 2 9% para 2,4%, de olho nos impactos econômicos do coronavírus. Este é o nível mais baixo desde 2009.
Para a entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial pode ser até mesmo negativo no primeiro trimestre deste ano e cair para 1 5% em 2020, caso a epidemia se agrave. "Os governos precisam agir com rapidez e força para superar o coronavírus e seu impacto econômico", defende a OCDE.
Para 2021, porém, a projeção de crescimento global foi elevada de 3,0% para 3,3%.
"As contrações na produção na China (epicentro da epidemia) estão sendo sentidas em todo o mundo, refletindo o papel fundamental e crescente do país asiático nos mercados globais de cadeias de suprimentos, viagens e commodities", argumenta a instituição, que também cortou sua previsão de crescimento da China em 2020 de 5,7% para 4,9%.
Para os Estados Unidos, a OCDE vê um impacto mais limitado, ainda que tenha reduzido suas projeções de crescimento do PIB de 2,0% para 1,9%¨em 2020.
A OCDE destacou ainda que a economia global tornou-se mais conectada com a China em relação a 2003, quando o surto de SARS também impactou os mercados. "A China desempenha um papel muito maior nos mercados globais de produção, comércio, turismo e commodities. Isso amplia as repercussões econômicas para outros países", diz a entidade, que projeta um grande impacto negativo sobre Japão, Coreia do Sul e Austrália.
Entre as medidas para a contenção dos impactos econômicos do coronavírus, a OCDE destaca a necessidade de se apoiar as economias de baixa renda e aumentar os estímulos fiscais, além de relaxamentos monetários em países com espaço para tal. Entre eles, a entidade destaca o Brasil.
A OCDE falou também que o Brasil tem espaço para relaxar ainda mais sua política monetária, como forma de conter os impactos econômicos do surto de coronavírus. A entidade, contudo, por mais que preveja impactos negativos da epidemia sobre países exportadores de commodities, manteve sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 1,7% em 2020.
"Os ventos contrários adicionais e a incerteza relacionados ao surto de coronavírus tornam essencial que as políticas monetárias continuem favoráveis em todas as economias", afirma a entidade. "Estímulos monetários ajudarão a economia a restaurar a confiança, embora o impacto de recentes e esperadas mudanças nas taxas de juros de países desenvolvidos deve ser modesta."
Em meio ao cenário desfavorável, a OCDE também defende a necessidade de uma política fiscal rígida em países emergentes, citando Brasil e Índia, mas destaca que programas de assistência a grupos sociais de baixa rendas devem ser garantidos e apoiados por investimentos.
O Banco Central reduziu a taxa básica de juros do País para 4 25% ao ano em 5 de fevereiro e, no comunicado da decisão, indicou a interrupção do fim do ciclo de relaxamento monetário. Ainda assim, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) informou que os membros do grupo discutiram os efeitos do coronavírus sobre a economia global.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, inclusive, incluiu o coronavírus entre os riscos observados pelo BC, ao lado da desaceleração global e das eleições americanas, em recente apresentação a investidores.
Vale lembrar que o Brasil ainda não é um membro da OCDE, embora o processo para a adesão já tenha se iniciado.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em janeiro que prevê a entrada do País no "clube dos países ricos" em dois anos.