Eleições nos EUA: como uma vitória de Biden pode impactar a economia brasileira (Mark Makela/Reuters)
Carla Aranha
Publicado em 6 de novembro de 2020 às 18h17.
Última atualização em 6 de novembro de 2020 às 18h27.
Os investidores e economistas vêm com bons olhos a combinação de uma vitória do democrata Joe Biden e um Senado republicano. Caso essa projeção se confirme, a expectativa é que os Estados Unidos convivam com um cenário de uma menor alta de impostos e um pacote de estímulo fiscal mais modesto, embora suficientemente significativo para dar um novo fôlego à economia.
“A previsão é de uma expansão fiscal mais moderada e um crescimento paulatino da economia”, diz o economista Arthur Mota, da EXAME Research.
Um panorama de um aumento de impostos para empresas inferior à casa dos 21% a 28% previstos no programa do democrata Joe Biden, aliado a um crescimento da economia americana, deve configurar um ambiente externo favorável aos emergentes.
Um estímulo fiscal um pouco mais moderado, abaixo dos 2 trilhões de dólares proposto por Trump, deve impactar positivamente a dívida pública, com uma menor pressão sobre o endividamento do país.
Com isso, a taxa de juro seria menos pressionada. Uma das consequências esperadas é uma menor desvalorização do dólar, uma manutenção dos juros baixos nos Estados Unidos e uma recuperação mais acelerada da economia americana.
Uma recuperação econômica dos Estados Unidos somada ao crescimento da economia chinesa, que cresceu 4,9% no terceiro semestre deste ano, deverá ter um impacto no preço internacional das commodities. O maior poder de compra das duas maiores economias do mundo pode puxar a venda de commodities, o principal motor das exportações brasileiras.
E é aí que mora o perigo. O maior incentivo às exportações de produtos como grãos e proteínas pode inflacionar ainda mais o preço dos alimentos no Brasil, contribuindo para um aumento da inflação. “Os juros de longo prazo já vêm aumentando em razão do risco fiscal, com a questão do teto de gastos ainda em aberto para 2021”, diz Mota. “Um aumento da confiança dos investidores, com um cenário fiscal mais equilibrado, poderia levar a um crescimento econômico do país face a um ambiente externo favorável, puxado inclusive por uma alta das exportações”, afirma.
Outro elemento de estresse deverá ser a segunda onda do coronavírus, que já atinge os Estados Unidos e a Europa. Caso seja necessário um estímulo maior à economia americana em razão de um aumento expressivo de casos de covid-19 e um novo fechamento da economia, as projeções poderão ser vistas. Um Senado republicano tenderia a barrar pacotes de estímulo mais ambiciosos, reduzindo as chances de um crescimento do PIB em meio às turbulências sanitárias.
Nos últimos dias, os Estados Unidos registraram mais de 100.000 novas infecções por dia. Na quinta-feira, dia 5, o país teve cerca de 120.000 novos casos de covid-19, em uma alta sem precedentes desde o início de outubro. “Com Biden na Presidência, um sujeito mais equilibrado, a pandemia deve ser tratada de uma forma mais assertiva, mas ainda é cedo para prever o que poderá acontecer”, diz o economista Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda.