Economia

O que o IBC-Br diz sobre o PIB? Para analistas, acaba com o "voo cego" do PIB e sinaliza tendência

Segundo economistas, o IBC-Br, divulgado mensalmente pelo Banco Central, aponta um norte, sem cravar um número

 (Adriano Machado/Reuters)

(Adriano Machado/Reuters)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 18 de julho de 2023 às 16h02.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC) foi divulgado na última segunda-feira, 17, e registrou uma queda de 2% em maio, após uma alta de 0,81% em abril. Mas o que o indicador publicado mensalmente pela autoridade sinaliza ou diz sobre o Produto Interno Bruto (PIB), divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)? A EXAME ouviu três especialistas no assunto e consultou as próprias publicações do BC para explicar.

Publicado desde março de 2010, o IBC-Br tem o objetivo, segundo o BC, de mensurar a evolução da atividade econômica do país e “contribuir para a elaboração de estratégia de política monetária”.

Na prática, o índice é mais uma ferramenta disponível para os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) avaliarem o nível de geração de riquezas e como a Selic afeta a dinâmica de crescimento.

“O IBC-Br é construído com base em proxies representativas dos índices de volume da produção da agropecuária, da indústria e do setor de serviços, além do índice de volume dos impostos sobre a produção. Essas proxies são agregadas com pesos derivados, em especial, das tabelas de recursos e usos do SCN [Sistema de Contas Nacionais, publicado pelo IBGE]”, informa o BC, em um estudo especial sobre o indicador, publicado em março de 2018.

O próprio BC afirma que por se tratar de indicador de atividade, a taxa de crescimento do IBC-Br é frequentemente comparada à do PIB. Embora a comparação seja natural, a autoridade monetária afirma que há diferenças conceituais, metodológicas e mesmo de frequência de apuração dos dois.

“As comparações em horizontes mais longos (anual) são mais apropriadas do que em horizontes mais curtos (trimestrais)”, informa o BC, no mesmo estudo.

Fim do “voo cego do PIB”

O economista Alexandre Cabral, professor da escola de negócios Saint Paul, usa uma analogia para explicar o que é o IBC-Br e como ele deve ser analisado na relação com o PIB.

“O índice de atividade do BC tira o voo cego do PIB, já que o IBGE publica o resultado sobre o crescimento econômico a cada 90 dias. O dado é importante, mas não é um indicador completo. Ele é produzido com base em outros dados e não há uma pesquisa em campo, como no PIB”, diz.

Segundo Cabral, o IBC-Br ainda publica revisões mensais que mostram variações significativas. Para o economista, o índice do BC dá uma noção do que aconteceu com a economia naquele mês específico, um norte, mas não é um dado exato.

Diferenças conceituais, tendência sinalizada

O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, afirma que o IBC-Br tenta, de alguma maneira, sinalizar para onde caminha a atividade econômica do país.

“Conceitualmente, o IBC-Br é bem diferente do PIB. Como o PIB é trimestral, a gente ficava, lá atrás, sem um parâmetro. Quando o BC colocou o IBC de pé, passamos a ter uma ideia, uma sinalização de como a atividade fluiu mês a mês”, diz.

Espírito Santo também afirma que, historicamente, o IBC-Br sinaliza uma tendência e esse tipo de indicador é importante para que o mercado e mesmo a academia não fiquem voando às cegas.

“Eu estou vendo que a economia teve um segundo trimestre fraco. Estimo que o resultado do PIB entre abril e junho ficou zerado ou um pouquinho negativo. O primeiro trimestre me surpreendeu e foi influenciado pela força do agro, que não vai se repetir agora, muito provavelmente", diz. "Com o resultado do primeiro trimestre, aumentei minha projeção para o resultado do ano de alta de 1% para 2,1%."

Juro alto não é único vilão da economia

Para Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, o IBC-Br mede o nível de aceleração da economia - isto é, a rapidez com que a velocidade muda -, mas não a velocidade específica. Na prática, segundo rocha, o índice indica a tendência, sem acertar o percentual exato.

“Se o IBC-Br registra altas consecutivas, sabemos que o PIB vai crescer. Mas não quanto. No começo do ano, mesmo com muito pessimismo, eu avaliei que a economia cresceria 1,5%. E já temos projeções mais alta. Por outro lado, tem gente que só culpa a Selic alta. Mas não é só isso que afeta o crescimento. O empresariado estava bastante preocupado, sem investir. Os bancos emprestando pouco, tentando entender para onde o país ia. Isso também precisa ser considerado”, diz Rocha.

Segundo Rocha, além dos juros, a renda disponível, o entusiasmo de empresários e consumidores, além da estabilidade política do país precisam ser considerados nas projeções econômicas.

“O cenário ainda está incerto. Não dá para dizer com os resultados recentes do IBC-Br que há uma desaceleração. O segundo semestre pode surpreender positivamente. A tendência aponta para isso”, diz.

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