Economia

O que está por trás da balança comercial recorde

A projeção é que 2017 feche com superávit da balança comercial acima de US$ 60 bi, batendo os US$ 47 bi de 2016 - que já eram recorde. É para comemorar?

Terminal da Cia Siderúrgica Nacional no Porto de Itaguaí no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)

Terminal da Cia Siderúrgica Nacional no Porto de Itaguaí no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 13h01.

Última atualização em 23 de agosto de 2017 às 18h48.

São Paulo – O superávit da balança comercial brasileira está batendo recorde atrás de recorde.

No acumulado dos 7 primeiros meses de 2017, o saldo positivo foi de 42 bilhões de dólares, mais de 50% acima do mesmo período do ano passado.

A projeção do governo é que 2017 feche com superávit acima de US$ 60 bilhões, batendo os US$ 47,5 bilhões registrados no ano passado - e que já eram recorde.

As importações subiram 7,2%, mas as exportações subiram ainda mais: 18,7%. É dinheiro entrando que ajuda a segurar o dólar e gerar alguns dos melhores resultados em transações correntes em mais de uma década.

Commodities

Uma explicação está na alta dos preços de commodities, produtos básicos vendidos a granel, muitos deles produzidos por aqui.

Uma evidência disso é que o preço dos produtos exportados pelo Brasil subiu 15,3% nos primeiros 7 meses do ano, em média, enquanto o volume exportado aumentou só 3,3%.

A alta nos valores exportados no período chega a 117% no petróleo, 72% no minério de ferro e 17% na soja na comparação com 2016.

“O Brasil tem uma boa chance agora que o cenário deve continuar bom para commodities. Mesmo que o superávit seja feito com uma cesta de baixo valor agregado, isso não é necessariamente ruim. O ruim é usar superávit para pagar conta e apagar incêndio”, diz Marcos Troyjo, economista e diplomata que dirige o BRIClab da Universidade de Columbia.

O ideal seria usar as divisas para “investir em diversificação, tecnologia e agregar valor” na cesta de exportados e com isso evitar repetir o erro do último ciclo de boom das commodities, quando muito dinheiro entrou mas a produtividade não saiu do lugar.

“Mesmo exportando produtos primários, podemos adicionar valor. Isso significa em vez de exportar soja, exportar o produto que usa soja, por exemplo”, diz André Mittidieri, economista da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).

Industrializados

As commodities não explicam tudo. A exportação de automóveis de passageiros, por exemplo, cresceu 59% no acumulado de 2017 sobre o mesmo período de 2016.

O câmbio mais desvalorizado aumenta o custo de produção, mas favorece a substituição de importações, enquanto a fraqueza do mercado interno já há alguns anos estimulou a busca de outros mercados pelos empresários.

Também não se pode partir do princípio mercantilista ultrapassado de que exportar é sempre bom e importar é sempre ruim.

No nosso caso, a queda das importações é em boa parte fruto da perda de renda da população. É possível fazer um paralelo com a queda da inflação, outro fenômeno positivo, mas com algumas raízes perversas.

Mittidieri destaca, por exemplo, que a importação de bens de capital caiu 30% na comparação anual, o que significa menos máquinas e mais distância da fronteira tecnológica global.

Esse número não deve reagir tão cedo, já que a indústria ainda tem muita capacidade ociosa para utilizar antes de precisar investir (e contratar) de novo.

A Câmara de Comércio Exterior (Camex) vem tentando contrabalançar esse fenômeno zerando as tarifas de importação de centenas de máquinas e equipamentos industriais que não tem fabricação nacional.

Nos próximos anos, os números vão depender também de uma política comercial mais aberta e proativa. O governo brasileiro acredita ser possível fechar até o final do ano o acordo entre Mercosul e União Europeia.

Troyjo avalia que a chance é "a mais alta em 20 anos pois a UE quer provar que está operante" em um momento que se recupera economicamente e lida com a saída do Reino Unido.

Fenômenos como esse e a eleição de Donald Trump dispararam medos de fechamento guerras comerciais, mas o que tem prevalecido é um realinhamento do entusiasmo com a globalização:

"Mesmo com uma onda protecionista, tem gente querendo usar as portas entreabertas pra celebrar acordos", diz ele.

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