Banco Central: “a equipe tem de mudar. A credibilidade do BC é muito baixa”, diz especialista (Ueslei Marcelino/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2016 às 20h51.
Mesmo sem ver necessidade de mudanças nas políticas monetária ou cambial do Banco Central no curto prazo, alguns dos principais consultores do mercado não veem espaço para a continuidade da diretoria comandada por Alexandre Tombini.
O fracasso da atual equipe em manter a inflação na meta e intervenções vistas como excessivas no câmbio são considerados um passivo de credibilidade que poderia dificultar o objetivo de recuperar a confiança dos investidores.
“O BC foi usado no estelionato eleitoral” do governo Dilma, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da consultoria Tendências. Para Blanche, o BC, ao não priorizar a elevação dos juros na medida necessária para conter a inflação, optou por atuar no câmbio, evitando uma alta mais acelerada do dólar no primeiro mandato de Dilma. ”Assim como houve pedalada fiscal, também houve pedalada cambial”, diz o consultor.
Blanche considera que o BC, nos últimos meses, vem adotando políticas mais alinhadas com o mercado, mas ainda assim vê como negativa a hipótese, considerada na mídia recentemente, de manutenção de Tombini à frente do BC para além do período normal de transição. Diante do desgaste da equipe atual, um novo presidente será fundamental para reconquistar a confiança do mercado, embora não suficiente, afirma Blanche. “É preciso mexer em time que está perdendo”, diz o consultor.
“A equipe tem de mudar. A credibilidade do BC é muito baixa”, diz Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados e diretor do BC na gestão de Henrique Meirelles. Para ele, além do presidente, também os demais principais postos da diretoria do BC precisam ser renovados. O ex-diretor tem sido um crítico contumaz da gestão de Tombini no primeiro mandato de Dilma, que derrubou a taxa de juros para nível recorde em 2012. Para Schwartsman, o fato de a inflação estar há quase seis anos acima do centro da meta pode gerar dúvidas no mercado quando o BC começar a cortar a Selic, no caso de a diretoria ser mantida.
“Quando o BC reduzir os juros, o mercado pode questionar se não há uma motivação política por trás”, diz Schwartsman. O questionamento não ocorrerá, diz o economista, se o banco central estiver sob comando de uma equipe que tem histórico de pulso forte contra a inflação.
Evitar que o real seja novamente apreciado excessivamente deve ser uma preocupação do governo e do BC caso Michel Temer assuma, disse o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. “Não tenho a menor dúvida de que o BC terá de continuar intervindo no câmbio”, disse o ex-ministro em entrevista à Bloomberg. Para comandar o BC, Delfim prefere Carlos Kawall, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Ilan Goldfajn, Afonso Bevilaqua, Eduardo Loyo e Mário Mesquita são outros nomes citados na mídia.
Blanche também defende que o BC prossiga com os leilões de swap cambial reverso para desmontar a posição construída com as atuações dos anos anteriores. O consultor da Tendências, porém, alerta contra excessos de intervenção. Para ele, um dos maiores problemas decorrentes das intervenções no governo Dilma é tornar praticamente impossível para o mercado determinar qual o nível correto do dólar com base nos fundamentos. “Não é possível calcular o câmbio de equilíbrio se o BC intervém em excesso”.
Para Blanche, a condução correta das políticas monetária e cambial pelo BC terá de ser complementada pela redução do déficit fiscal para a economia retomar o crescimento sustentado.
”Será preciso recuperar a confiança no tripé macroeconômico”, diz Blanche, referindo-se à combinação de câmbio flutuante e metas de inflação e de superávit primário, sistema implementado por Fernando Henrique Cardoso, mantido por Lula e que, segundo o consultor, foi enfraquecido por Dilma, resultando na crise atual. “A credibilidade da política econômica precisa ser restaurada”.