Dinheiro: mão em cima de notas de real (REUTERS/Sergio Moraes)
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de fevereiro de 2017 às 13h30.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2017 às 15h10.
São Paulo – O Itaú projeta que a reforma da Previdência será aprovada no 2º trimestre, "modificada sem ser desfigurada", com impacto de economia de 1,9% do PIB em 2025.
“O governo tem mostrado competência no relacionamento com o Congresso, tem um viés parlamentar muito forte e tem utilizado isso efetivamente. Mas a Previdência suscita mais oposição e mexe com mais interesses”, disse Mário Mesquita, economista-chefe do banco, em reunião com jornalistas hoje em São Paulo.
Ele nota que os analistas brasileiros estão mais preocupados com o curto prazo, enquanto os investidores lá fora dão como certo que a reforma da Previdência vai passar e já olham para o cenário eleitoral de 2018.
Mesquita diz que a previsão é que a eleição seja a mais fragmentada da pós-redemocratização, mas que o cenário-base do banco é de continuidade de políticas econômicas, não importa o vencedor.
“Não sei quem vai ser o presidente a partir de 2019, mas a gente imagina que pelo fracasso da política populista anterior, ele vai querer manter as políticas atuais”.
Crescimento
A previsão do Itaú é que os números do PIB do 4º trimestre de 2016, que serão divulgados no dia 07 de março, ainda mostrem queda.
No 1º trimestre de 2017, eles já mostrariam algo entre estabilidade e alta de 0,5%. No balanço, o crescimento do PIB fecharia o ano em 1%.
É cerca de o dobro do esperado pela média do mercado, de acordo com o Boletim Focus divulgado hoje. O Itaú é mais otimista porque vê melhora em todos os fundamentos.
Os preços de commodities estão mais altos, o juro real está em queda, a desalavancagem das empresas já está em curso e na medida em que os estoques se esgotam, cresce a necessidade de produção.
O banco apontou até para uma possível recuperação no ritmo de admissões, fator que responde mais rápido ao PIB e era esperado só na metade do ano. Resta saber se é um ponto fora da curva.
Para 2018 a previsão é de aceleração para 4%, impulsionada por um afrouxamento sustentável da política monetária diante do controle fiscal estabelecido pelo teto de gastos.
A reforma da Previdência, aliás, não bastará para cumprir o teto. O banco prevê que novas medidas serão necessárias e bota na lista a volta dos impostos sobre folha de pagamento (que é alta de receita, mas entra na conta do governo como queda de despesa), reformas no seguro-desemprego e até o fim do abono salarial.
Câmbio, juros e inflação
Segundo Mesquita, a valorização do real “não é tão surpreendente assim” diante de commodities em alta e o risco-país em baixa, mas eventualmente o câmbio vai se depreciar puxado por um aperto monetário nos EUA e uma desaceleração da China.
A previsão para a taxa Selic no fim do ano é de 9,25%. A partir daí ficaria estacionada em alguns meses, com novos cortes em meados de 2018.
E isso considerando que quando o Conselho Monetário Nacional se reunir em junho, vai definir a meta de inflação em 4% para 2019, mais apertada do que hoje (4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo).
“Ninguém pode celebrar uma recessão desse tamanho, mas já que está acontecendo, que pelo menos a gente tire disso uma redução da inflação”, diz Mesquita.
A previsão é que a nova meta não exigiria sacrifício adicional de política monetária porque o fiscal está ajudando e as expectativas andam junto. Em resumo: se a meta hoje fosse menor, as expectativas do mercado também seriam.
“A recessão é tão intensa que você consegue abaixar a meta e reduzir a taxa de juros”, diz Felipe Salles, economista do banco.
Em relação à meta de déficit primário, a previsão do banco é que ela seja atingida com uma combinação de contingenciamento de despesas e alta da receita com venda de ativos e o novo programa de repatriação.
Não há previsão de volta do grau de investimento em um futuro próximo e a dívida continuaria crescendo até estabilizar em 80% do PIB em 2020 para depois voltar a cair.
Mundo
Nos Estados Unidos, o cenário-base é que o Congresso vai mitigar os excessos de Donald Trump e que haverá mudanças apenas moderadas nas políticas de comércio exterior.
“Protecionismo custa caro, e o brasileiro sabe disso”, diz Mesquita.
Fechar a economia americana causaria problemas diretos (alta de custos para o consumidor americano) e indiretos (reação dos outros países).
Já uma expansão fiscal, com cortes de impostos e mais gastos em infraestrutura, tem mais chance de sair. Em uma economia já robusta, isso deve pressionar para cima os salários e a inflação.
O Federal Reserve deve aumentar os juros novamente em maio, ainda que uma alta em março não esteja descartada. No segundo semestre, seriam duas novas altas.
Mas há dúvidas de como Trump vai lidar com o Fed, que terá vagas abertas no colegiado e que foi atacado durante a campanha por supostamente manter taxas de juros muito baixas.
“Mas o Trump no poder vai querer juros mais baixos do que o Trump candidato”, diz Mesquita.
Na China, o aperto recente na política econômica deve surtir efeito mais para a segunda metade do ano, mas por enquanto o crescimento permanece robusto.