Economia

O novo "doente da Europa" com nota AAA: a Finlândia

Uma economia em depressão crônica, desemprego em alta e uma aversão a reformas de livre mercado. Não é a Grécia, nem a Espanha e nem Portugal


	Bandeiras da Finlândia: a economia do país, que se contraiu todos os anos desde 2012, teve o pior desempenho na zona da moeda comum durante os primeiros três trimestres de 2015
 (Getty Images)

Bandeiras da Finlândia: a economia do país, que se contraiu todos os anos desde 2012, teve o pior desempenho na zona da moeda comum durante os primeiros três trimestres de 2015 (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 19h47.

Uma economia em depressão crônica, desemprego em alta e uma aversão a reformas de livre mercado. Parece uma história europeia conhecida?

Mas não é a Grécia, nem a Espanha nem Portugal. É a Finlândia.

Os países endividados e com problemas da região sul da zona do euro estão saindo trabalhosamente de sua crise de seis anos, alguns com mais sucesso que outros, ao passo que a Finlândia está sucumbindo à sua crise.

A economia do país, que se contraiu todos os anos desde 2012, teve o pior desempenho na zona da moeda comum durante os primeiros três trimestres de 2015, segundo dados do Eurostat.

Seu déficit é relativamente maior que o da Itália, apesar de a Finlândia ser a quarta colocada no ranking da União Europeia pelos impostos e encargos sociais que cobra de seus cidadãos, e sua taxa de desemprego supera a dos vizinhos nórdicos. Os mais novos dados, publicados nesta quarta-feira pela Statistics Finland, mostraram que a taxa de desemprego subiu para 9,2 por cento em dezembro, o nível mais alto desde junho de 2015.

O ministro de Finanças, Alexander Stubb, começou a se referir ao seu país como o mais novo “doente da Europa”.

“A Finlândia se transformou em uma economia que funciona com um déficit” e está “10 por cento ou 15 por cento atrás da Suécia ou da Alemanha” quanto à competitividade, disse o ministro da Economia, Olli Rehn, em uma entrevista neste mês.

“É por isso que temos de ajustar”.

O declínio no número de pedidos da vizinha Rússia, o enfraquecimento do setor de papel local e o colapso da divisão de produtos eletrônicos para consumidores da Nokia se combinaram para socavar a que foi uma das economias mais fortes da Europa Ocidental.

Angry Birds

Em 2008, a participação da Nokia no mercado de smartphones era superior a 40 por cento, as exportações de papel eram 22 por cento mais altas, a Rovio Entertainment estava lançando os alicerces de seu videogame bem-sucedido, o Angry Birds, e a Finlândia era vista como um modelo de resistência à escassez global de crédito.

Por outro lado, a Grécia, a Espanha, Portugal e a Irlanda um ano depois cairiam em uma crise que exigiu três resgates pelo total de 581,5 bilhões de euros (US$ 630 bilhões) e dezenas de reuniões de funcionários em Bruxelas que duraram noites inteiras.

O Fórum Econômico Mundial disse em uma pesquisa recente que a Finlândia recuou do quarto ao oitavo lugar no ranking de competitividade mundial.

O sistema de negociação salarial do país é o mais centralizado entre 140 países consultados. Consertar isso requer uma mudança profunda e veloz, diz o governo. A alternativa é cair em um atoleiro de crescimento fraco e emprego baixo “no estilo do sul da Europa”, diz Rehn.

Analogias

A Finlândia, certamente, não está nem de longe precisando do tipo de resgate internacional que caracterizou a crise da dívida. Além disso, as medidas que o primeiro-ministro Juha Sipilä está propondo não são tão draconianas quanto as que os países do sul enfrentaram.

A Finlândia é um dos poucos países da zona do euro que ainda tem nota de crédito AAA da Moody’s Investors Service e da Fitch Ratings, embora a Standard Poor’s tenha rebaixado a nota máxima em outubro de 2014. Com cerca de 60 por cento do PIB, a dívida pública do país é menos de metade da de Portugal.

Estima-se que o Congresso aprovará as medidas pró-concorrência do governo até junho. Apesar de o estilo agressivo de Sipilä ter irritado os sindicatos e sua popularidade estar recuando nas pesquisas, sua coalizão tem 123 das 199 cadeiras com direito a voto no Congresso.

Os líderes da Espanha, de Portugal, da Irlanda e da Grécia (duas vezes) foram expulsos do cargo porque os eleitores protestaram contra a austeridade. Com eleições nacionais dentro de três anos, Sipilä necessita que suas reformas funcionem a tempo para evitar esse destino.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaEuropaFinlândiaPaíses ricos

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE