Economia

O grande medo dos millennials e da geração Z no Brasil: ficar desempregada

Segundo um estudo feito pela Delloite, a pandemia fez com que alguns fatores ganhassem força para as novas gerações

 (Klaus Vedfelt/Getty Images)

(Klaus Vedfelt/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 5 de julho de 2021 às 19h40.

Última atualização em 5 de julho de 2021 às 19h57.

Com mais de um ano de pandemia, as novas gerações -- conhecidas como millennials e geração Z -- estão mais ansiosas, estressadas e preocupadas com o desemprego no Brasil. Eles também acreditam que o mundo está em um caminho de inflexão sobre questões ambientais, desigualdade e racismo.

A edição mais recente do estudo global “Millennials e Geração Z”, da Deloitte, traz dados sobre como essas gerações estão se transformando, o quanto se sentem responsáveis por questões da sociedade e o que esperam das empresas e instituições para impulsionar mudanças ao redor do mundo.

"Vemos essas gerações com mais envolvimento nas questões públicas, alinhamento de gastos, nas escolhas de carreira que reflitam seus valores e com o objetivo de trazer mudanças em questões sociais que consideram mais importantes. Elas trazem uma maneira de pensar e agir diferentes, mas os valores permanecem firmes, sustentando seus idealismos e o papel de que as empresas têm o dever de fazer mais para ajudar a sociedade. O momento é ideal para as organizações e instituições se adaptarem e se transformarem para atender a essas necessidades.", aponta Marcos Olliver, sócio líder da área de talentos da Deloitte .

Altos níveis de estresse e ansiedade

Mais da metade dos participantes do estudo -- de ambas as gerações -- disseram que se sentem estressados na maior parte do tempo. O futuro financeiro de longo prazo, o bem-estar familiar e as perspectivas de emprego são as três causas mais comuns de estresse das gerações. Para a geração Z, os principais fatores de estresse são sobre empregos/perspectivas de carreira e o futuro financeiro de longo prazo. Já para os millennials, o motivo acaba sendo a situação financeira pessoal.

O estresse e a ansiedade são predominantes no local de trabalho, e os esforços dos empregadores pela saúde mental são vistos como inadequados. Mesmo com 52% dos millennials no Brasil não se sentindo à vontade para conversar com seus empregadores sobre o estresse causado pela pandemia, em comparação com a média global, a geração parece um pouco mais aberta com seus chefes sobre o assunto. Entretanto, a maioria sente que seus superiores ainda podem fazer mais em relação ao apoio do bem-estar mental dos funcionários. Os millennials, mais do que a geração Z no Brasil, se sentem ainda menos apoiados por seus líderes.

A "flexibilidade/adaptabilidade" foi apontada por todos como fator mais importante para o sucesso das empresas. "Promover conexões de trabalho mais abertas e inclusivas em que as pessoas se sintam confortáveis falando sobre estresse, ansiedade ou outros desafios de saúde mental que estão enfrentando, é fundamental. Atualmente se tornou mais importante a criação de um local de trabalho que apoie o bem-estar dos funcionários.", afirma Olliver.

Desemprego como centro das preocupações

No Brasil, o desemprego permanece liderando a lista dos millennials, seguido por cuidados com a saúde/prevenção de doenças e segurança. Para a geração Z, estão o desemprego, a segurança e a saúde em terceiro lugar.

Muitos acreditam que a ganância e a proteção dos interesses próprios das empresas/pessoas são os principais fatores para a desigualdade social (para 39% dos millennials e 41% da geração Z); mais de três quartos dos millennials (85%) e da geração Z (83%), no Brasil, acham que a riqueza e a renda estão desigualmente distribuídas.

Racismo sistêmico

Os millennials e a geração Z acreditam que a discriminação é generalizada, provavelmente possibilitada pelo racismo sistêmico em toda a sociedade e nas grandes instituições. Pelo menos um em cada cinco entrevistados se sente pessoalmente discriminado "o tempo todo" ou "frequentemente", devido às aparências que revelam suas origens.

No Brasil, as gerações são ligeiramente mais propensas do que a média global a se sentirem pessoalmente discriminadas pelo governo, empresas e mídias sociais e responderam se sentirem menos discriminados durante as atividades cotidianas e em seus locais de trabalho; 85% da geração Z e 72% dos millennials creem que o racismo sistêmico é difundido na sociedade em geral.

Os jovens, em sua maioria, acreditam que estamos em um ponto de inflexão quando se trata de discriminação e a mudança é possível a partir deste ponto e que a intervenção do governo ajudaria a lidar com a desigualdade no mundo e que os indivíduos e ativistas estão fazendo o máximo para reduzir o racismo sistêmico, enquanto o governo e demais políticos, assim como o sistema jurídico e as empresas, fazem pouco em relação aos seus potenciais para promover mudanças.

Em termos de ações, comparados com a média global, os millennials e a geração Z no Brasil são mais propensos em doar recursos educacionais para instituições de caridade que trabalham para melhorar as oportunidades para grupos de baixa renda.

Efeitos da pandemia

Em comparação com a média global, os millennials e a geração Z no Brasil são mais propensos a afirmar que a pandemia os inspirou a tomar ações positivas para melhorar suas vidas (86% dos millennials e 82% da geração Z no Brasil, contra 71% e 70% dos respondentes globais, respectivamente).

A pandemia teria trazido novas questões a eles e os tornado mais atentos às necessidades de outras pessoas em suas comunidades (81% dos millennials e 78% da geração Z no Brasil, contra 69% e 68% dos respondentes globais, respectivamente). Eles ainda se mostraram menos propensos do que os respondentes globais a concordar que agora há um forte sentimento de que todos ao redor do mundo estão "juntos nisso" (59% dos millennials e 55% das pessoas da geração Z brasileiras, contra 63% e 60% das gerações, respectivamente, globais).

Em geral, ambas a gerações no Brasil são mais propensas do que os respondentes globais a acreditar que as pessoas darão mais importância à saúde no pós-pandemia, que a sociedade está pronta para lidar com futuras pandemias e que as pessoas estarão comprometidas em tomar medidas pessoais para questões ambientais e climáticas.

A maioria dos millennials e da geração Z, no Brasil, aderiu às diretrizes internacionais de saúde pública durante a pandemia (82% dos millennials e 78% da geração Z). Eles são ainda mais propensos do que os participantes globais (74% dos millennials e 69% da geração Z) a usar máscara em público ou evitar lojas, transportes públicos ou outros lugares lotados.

Impacto social dos negócios

Continuando a queda dos últimos anos, 64% dos millennials e 51% da geração Z acreditam que os negócios têm impacto positivo na sociedade. No índice global, esta é a primeira vez que esses níveis caíram abaixo de 50% desde o início da pesquisa, em 2012 (47% e 48%, respectivamente, para as gerações globais em 2021).

A maioria dos respondentes millennials e da geração Z no Brasil concorda que as empresas "se concentram apenas em suas próprias agendas" (76% e 81%, respectivamente) e "não têm ambições além de querer ganhar dinheiro" (65% e 66%). E, em comparação com 2020, algumas percepções declinaram para as gerações em 2021: o foco na própria agenda passou de 78% para os millennials para 76% em 2021; e nenhuma ambição além de lucrar passou de 69% para 65%, respectivamente, para ambas gerações.

"Ao longo dos anos, o estudo global tem mostrado consistentemente que os millennials e a geração Z são direcionados por valores e ações e, agora, eles estão responsabilizando a si próprios e às empresas. Mesmo durante um ano difícil de pandemia (e talvez motivados por ela), eles continuam a pressionar por mudanças sociais positivas. As empresas que compartilham sua visão e os apoiam em seus esforços para criar um futuro melhor, ganharão destaque", declara Marcos Olliver.

Gerações acreditam menos em melhora econômica e política

Millennials e geração Z do Brasil, estão menos otimistas quanto à melhora da situação econômica geral do que nos últimos dois anos. No entanto, elas são significativamente mais positivas do que os respondentes globais: metade dos millennials e 39% da geração Z acham que a situação econômica vai melhorar em comparação com 27% dos millennials e da geração Z globalmente.

No Brasil, os respondentes também acreditam menos na melhora da situação sociopolítica geral do que nos últimos dois anos. Mas, novamente, eles são mais otimistas do que os jovens do resto do mundo.

A maioria dos millennials e de pessoas da geração Z no Brasil concorda que as mudanças ambientais vistas durante a pandemia os tornam mais otimistas de que as mudanças climáticas podem ser revertidas; eles também estão mais convencidos disso do que os respondentes globais. Mais de 4 em cada dez millennials e pessoas da geração Z, no Brasil, acreditam que o compromisso das pessoas em lidar com a mudança climática melhorará no pós-pandemia.

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