Economia

O dragão chegou, diz BNP Paribas sobre a inflação

Economista chefe para a América Latina projeta que a inflação pode furar o teto da meta (6,5%) em março e chegar a 6,7% no final do ano


	 

	Ano do dragão da inflação: BNP Paribas espera que o Copom aumente os juros em 0,50 p.p. na reunião e projeta que a taxa básica de juros chegará a 9% no final do ano

  Ano do dragão da inflação: BNP Paribas espera que o Copom aumente os juros em 0,50 p.p. na reunião e projeta que a taxa básica de juros chegará a 9% no final do ano

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 12h17.

São Paulo* – No final de 2012, o banco BNP Paribas projetava que 2013 seria o ano do dragão no Brasil, apesar de, no horóscopo chinês, 2012 ser o ano do dragão. Agora, a avaliação do banco é que o dragão chegou. “Nossa previsão que parecia extremamente pessimista de a inflação furar o teto, hoje nos parece muito próxima”, disse Marcelo Carvalho, economista chefe para a América Latina do banco BNP Paribas em videoconferência com a imprensa.

“Hoje (a inflação) está perigosamente perto do teto e dependendo do número divulgado em março não é difícil furar o teto já em breve”, disse Carvalho. A meta oficial de inflação é de 4,5% - a margem de tolerância tem o teto de 6,5%. Se a inflação mensal de março for de 0,38% no mês a mês, no acumulado 12 meses ela vai ultrapassar 6,5%, segundo Carvalho. A projeção do banco é que a inflação chegue a 6,7% no final do ano.

“Não é que a economia esteja crescendo em um ritmo alucinante e a demanda esteja muito aquecida. O caso é que crescemos com restrições de oferta”, disse. O baixo investimento é o que explica as restrições de oferta de hoje, segundo Carvalho. 

No Brasil, as expectativas de médio e longo prazo costumavam ser bem ancoradas no centro da meta, de 4,5%, hoje os dados que o próprio Banco Central coleta mostram expectativas acima da meta de 4.5%. “Esse é um desafio importante para o BC, que terá que conquistar essa ancoragem de expetativas acima da meta”, disse.

Há medidas tributárias que podem dar um alívio aos sintomas mas não resolvem o quadro da doença, segundo carvalho. “Combate à inflação requer mais que desonerações específicas que trazem alívio temporário nos sintomas da inflação, mas não combatem as causas”, disse. O impacto da desoneração da cesta básica na inflação pode não ser tão grande como esperado pelo governo, segundo Carvalho. “No anúncio das medidas, o governo foi claro ao dizer que elas colocariam mais dinheiro no bolso do consumidor. Em um primeiro momento, essa medida tem um impacto favorável mas num segundo momento coloca mais dinheiro no bolso do consumidor e pode ter efeito até contrário no médio e longo prazo”, disse. O impacto da medida não deve ser sentido na inflação de março. “A expectativa de alguns técnicos do governo é que isso aconteça lá em abril”, disse.

Por causa dessa preocupação com a inflação, o BNP acredita que o Banco Central agirá. A projeção é que o ciclo de aumento de juros comece já na próxima reunião do Copom, em abril. “Quanto mais cedo melhor, na nossa avaliação”. A expectativa é de aumento de 0,50 ponto percentual na reunião de abril e que a taxa básica de juros chegue a 9% no final do ano. 


“Pouco se fala em trazer a inflação para 4,5% e muito se fala em deixar a inflação sob controle. Não me parece que haja uma preocupação tão forte em, imediatamente, trazer a inflação para o centro da meta”, disse Carvalho.  Manter a situação sob controle vai exigir aumento de juros, mas Carvalho acredita que não será um aumento de juros draconiano, visando trazer imediatamente a inflação para 4,5%.

“Antes, crescer era a grande prioridade, hoje a inflação é o problema”, disse Carvalho. O BNP Paribas projeta um crescimento de 3% do Brasil em 2013. A projeção para o câmbio é que o governo o mantenha na faixa estreita entre 1,95 e 2,00 real por dólar. “Ao longo do ano, pressões na balança de pagamentos podem levar o dólar mais para cima do que para baixo”, ponderou. 

Mundo

No cenário global a perspectiva é positiva mas nada espetacular, segundo Carvalho. O BNP Paribas projeta que a economia global deve crescer 3,1% em 2013 e 3,6% em 2014. “é um número razoável mas longe de ser espetacular”, disse Carvalho. Enquanto o mundo avançado cresce por volta de 1% em média, o mundo emergente cresce por volta de 5%, puxado por China em particular, segundo o economista-chefe. 

Na região do euro, o BNP Paribas espera uma queda de 0,5% no PIB em 2013, parecida com a de 2012.  “Esse primeiro trimestre do ano ainda será negativo, mas passamos por uma virada com números de neutro a talvez positivos já no segundo trimestre desse ano”, disse. 

No Japão, o crescimento deve ser de 0,9% em 2013 com algumas preocupações de longo prazo. Hoje, há grande incentivo fiscal no país, no curto prazo o resultado é de estímulo econômico. Na China, a expectativa é um crescimento de 8,3% esse ano. “Há, entretanto, uma preocupação com a possível formação de uma bolha de crédito na economia chinesa”, afirmou. 

*A matéria foi alterada as 12:03 para o acréscimo de informações

Acompanhe tudo sobre:BNP Paribaseconomia-brasileiraEmpresasEmpresas francesasInflação

Mais de Economia

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados

'Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás', diz presidente da Petrobras

Governo estima R$ 820 milhões de investimentos em energia para áreas isoladas no Norte

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados