Economia

O custo da guerra de Dilma contra o impeachment

A cada avanço do governo na batalha de Dilma Rousseff contra o impeachment, o mercado piora


	A presidente Dilma Rousseff: o receio não se limita ao risco de a crise política persistir caso Dilma sobreviva
 (Adriano Machado/Reuters)

A presidente Dilma Rousseff: o receio não se limita ao risco de a crise política persistir caso Dilma sobreviva (Adriano Machado/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2016 às 21h57.

A cada avanço do governo na batalha de Dilma Rousseff contra o impeachment, o mercado piora.

A alta do dólar nesta semana, quando o afastamento da presidente ficou mais incerto, espelha esta apreensão dos investidores. O receio não se limita ao risco de a crise política persistir caso Dilma sobreviva.

O mercado também teme o custo da batalha que a presidente vem travando pela sua sobrevivência, que parece enterrar de vez o já tímido ajuste fiscal tentado até o ano passado.

O mercado financeiro exagerou nas apostas em um processo de impeachment mais rápido, diz Monica De Bolle, pesquisadora no Peterson Institute for International Economics e professora-adjunta da Johns Hopkins University. “O vai e vem é normal no processo. O mercado não considerou as manobras que o governo faria para se salvar a qualquer custo.”

De Bolle, que considera o impeachment necessário, embora não suficiente para superar a crise, chama a atenção para vários movimentos do governo que vão na contramão da necessidade de melhorar a gestão da economia e do ajuste fiscal. O mais recente é a tentativa, noticiada pelos jornais nos últimos dias, de cortar os preços dos combustíveis, apesar do elevado endividamento da Petrobras. “Esta medida não é factível, pois a situação de caixa da Petrobras é dramática.”

Outra medida contraproducente, segundo a economista, é a proposta de criação da ”banda fiscal”, que na prática acaba com a meta. O próximo governo, diz ela, terá o grande desafio de reconstruir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Outra proposta recente do governo, de usar depósitos remunerados no Banco Central no lugar das operações compromissadas, também é criticada por De Bolle, que vê pouca chance de a medida ser implementada. A proposta reduz a transparência das contas públicas, o que “é típico deste governo”, diz De Bolle.

A atuação do governo diante da crise política agravada pelo impeachment é uma preocupação adicional para o mercado, diz Paulo Petrassi, gerente de renda fixa da Leme Investimentos. ”O governo está totalmente preocupado com o impeachment, não com a economia. A política fiscal está descontrolada.”

Petrassi antevê um cenário de deterioração tanto para a economia quanto para o mercado em caso de Dilma vencer a batalha pelo impeachment. Para manter o poder, Dilma precisa apenas evitar que a oposição obtenha 342 votos. Seguirá com baixo apoio no Congresso, popularidade perto de 10% e economia em recessão profunda. Neste cenário, o dólar pode ir a R$ 4,50, acompanhado por bolsa em queda e juros em alta, com a continuidade do atual governo gerando uma ”bola de neve” de piora do mercado e agravamento da crise econômica, segundo o gestor da Leme Investimentos. ”Vai ser uma vitória de Pirro”, diz Petrassi.

Monica de Bolle considera que dificilmente o governo Dilma se salva. O problema, observa, é que, se o impeachment não passar agora, será provável que surjam novos processos de impeachment e ainda restará o processo no TSE, o que tornará o processo ainda mais demorado. Dilma tornou-se uma ”presidente Zumbi”, que não consegue governar, diz a economista.

A pesquisadora cita ainda as notícias sobre ofertas de ministérios e outros cargos em troca de apoio no Congresso entre os sinais de deterioração das condições de governabilidade, que pioram as expectativas da economia. ”O governo virou um balcão de negócios”, diz De Bolle.

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffImpeachmentMercado financeiroPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

Câmara aprova projeto do governo que busca baratear custo de crédito

BB Recebe R$ 2 Bi da Alemanha e Itália para Amazônia e reconstrução do RS

Arcabouço não estabiliza dívida e Brasil precisa ousar para melhorar fiscal, diz Ana Paula Vescovi

Benefícios tributários deveriam ser incluídos na discussão de corte de despesas, diz Felipe Salto