Economia

O Brasil está quebrado? O que dizem economistas sobre fala de Bolsonaro

Em seu primeiro dia de trabalho em 2021, Bolsonaro contradisse o ministro Paulo Guedes, ao afirmar que o Brasil está "quebrado". Saiba o que dizem economistas

Jair Bolsonaro: no mês passado, o presidente disse que tentaria passar a renda livre do pagamento do imposto para quem ganha até R$ 3 mil mensais (Ueslei Marcelino/Reuters)

Jair Bolsonaro: no mês passado, o presidente disse que tentaria passar a renda livre do pagamento do imposto para quem ganha até R$ 3 mil mensais (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 08h43.

Última atualização em 6 de janeiro de 2021 às 12h15.

Em seu primeiro dia de trabalho em 2021, o presidente Jair Bolsonaro contradisse o mantra do ministro Paulo Guedes, ao afirmar que o Brasil está "quebrado". Para um grupo de simpatizantes, ele declarou nesta terça-feira, 5, que, por causa da situação da economia, não "consegue fazer nada" e citou como exemplo as mudanças prometidas ainda durante a campanha eleitoral na tabela do Imposto de Renda.

"O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, tá, teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter" afirmou Bolsonaro a um apoiador na saída do Palácio da Alvorada residência oficial da Presidência.

A fala do presidente vai de encontro às declarações recentes do ministro da Economia, de que a atividade econômica do País está numa trajetória de recuperação em "V", ou seja, com a retomada na mesma velocidade da queda causada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Oficialmente, a equipe econômica espera que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,2% este ano, depois de um tombo previsto de 4,5% em 2020.

Tanto Guedes quanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendem a vacinação em massa da população como essencial para que a economia, de fato, se recupere em 2021.

No último ano, o governo precisou se endividar mais para bancar o aumento das despesas para combater a covid-19. A combinação da maior necessidade de financiamento com a aversão ao risco dos investidores, turbinada pela desconfiança em relação à continuidade do processo de ajuste fiscal no Brasil, levou o Tesouro a concentrar boa parte das emissões em títulos de prazo mais curto.

Como mostrou o Estadão, o Tesouro começa 2021 com uma fatura trilionária a ser paga aos investidores. A dívida que vence este ano já somava R$ 1,31 trilhão no fim de novembro de 2020, valor que deve crescer com a incorporação de mais juros. O desafio chega num ano decisivo para ditar os rumos das reformas consideradas essenciais para o equilíbrio fiscal do País - e, consequentemente, para a capacidade de pagar toda essa dívida no futuro.

O volume de vencimentos em 2021 equivale a 28,8% do estoque de toda a dívida pública interna e já representa quase o dobro da média de resgates nos últimos três anos. Mesmo assim, a equipe econômica sempre diz estar bastante "tranquila" em relação ao refinanciamento da dívida.

Pelo cenário traçado pelo Ministério da Economia, o Brasil deve acumular 13 anos de rombos sucessivos nas contas públicas. Com despesas maiores que receitas desde 2014, o País deve manter essa tendência até 2026. As contas públicas só devem voltar ao azul em 2027.

Procurado para comentar as declarações de Bolsonaro, o ministério não quis se pronunciar. Economistas de fora do governo criticaram a atitude do presidente.

O que dizem economistas

"País não pode abrir mão de R$ 1 de receita" - Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro

"O Brasil não está quebrado. O presidente quis dizer talvez que, apesar da carga tributária elevada aqui, mesmo cumprindo com o teto dos gastos, ainda teremos este ano e nos próximos déficit primário e crescimento da dívida pública.

Assim, não há espaço para o governo abrir mão de arrecadação porque ainda teremos de reduzir o mais rápido possível o desequilíbrio fiscal ao longo dos próximos anos para consolidar o cenário de inflação na meta, juros baixos e recuperação da economia.

A situação é a seguinte: hoje, o Brasil não pode abrir mão de R$ 1 de receita e ainda tem de se esforçar para recuperar neste e nos próximos anos a receita que perdeu com a crise da covid-19 na queda do PIB e na arrecadação."

"Vamos viver em compasso de espera" - Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados

"Iniciando a metade final de seu mandato, o presidente indica que não conseguirá fazer mais nada de relevante. Ao sugerir mãos atadas por um país quebrado, esquece que poderia fazer uma reforma administrativa que envolvesse o funcionalismo da ativa e ir além na PEC emergencial, discutindo gastos tributários como a Zona Franca de Manaus. Ou que pudesse entrar em acordo sobre as reformas tributárias no Congresso, mais profundas do que a apresentada pelo Ministério da Economia.

Mas não. O presidente posterga e acumula os problemas para 2023, início de um novo governo. Serão dois anos que, pelo jeito, veremos o Executivo bater cabeça como ficou o governo Temer depois da delação da JBS. Vamos, novamente, viver em compasso de espera."

"Fala isso quem não conhece a economia" - Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central

"O Brasil não está quebrado. O Brasil quebrou várias vezes no passado por falta de dólares. E quebrou em cruzados novos pela hiperinflação deixada pelo ex-ministro Maílson da Nóbrega com sua política de feijão com arroz.

Hoje, o Brasil é credor líquido em dólares, tem a taxa de juros mais baixa da história, saiu em 'V' da recessão e a renda média aumentou no ano passado. Fala que o País está quebrado somente quem não conhece economia.

Mas presidente é presidente. Bolsonaro falou isso para ninguém pedir ajuda. Ele quis barrar pedidos de verbas ao governo. Quando prometeu ampliar a faixa de isenção do IR era outra época. Hoje, mudou tudo. É outro mundo. O presidente tem de falar não e não."

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