Publicado em 10 de julho de 2025 às 18h44.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 19h05.
Por Samuel de Jesus Monteiro de Barros
O ano de 2025 tem apresentado um cenário econômico desafiador não apenas para o nosso país, mas também para o mundo. No Brasil, em meio a uma conjuntura marcada por juros elevados, inflação resistente e crescimento econômico moderado, o país busca caminhos para sustentar os investimentos produtivos — elemento essencial para o desenvolvimento de longo prazo, a geração de empregos e o aumento da competitividade, e vem encontrando entraves em diversas esferas, seja de poder, seja de mercado.
A inflação brasileira continua sendo um dos principais entraves à estabilidade macroeconômica. Apesar de sinais pontuais de desaceleração, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permanece acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Em maio, o IPCA acumulado em 12 meses foi de 5,32%, abaixo dos 5,53% registrados em abril/25, mas ainda acima do teto da meta de 4,5%.
Essa persistência inflacionária pode ser apontada por múltiplas causas. Entre elas, destacam-se os reajustes nos preços administrados, como energia elétrica e combustíveis, além da pressão sobre os preços de serviços, que refletem o aquecimento do mercado de trabalho. A inflação de custos, impulsionada por gargalos logísticos e câmbio volátil, dificultando as projeções futuras, também contribuindo para o cenário adverso.
Para as empresas, a inflação elevada tem representado um aumento direto nos custos de produção, redução das margens de lucro e maior incerteza na formulação de preços e contratos. Isso afetando negativamente a disposição para investir, especialmente em setores com baixa capacidade de repasse de preços ao consumidor.
Em resposta à inflação resistente, o Banco Central mantém a taxa Selic em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006, atualmente o segundo maior juros real do mundo. Essa política monetária contracionista visa refazer as ancoragens das expectativas inflacionárias, mas impõe um custo elevado à economia real.
Para o setor empresarial, os efeitos são imediatos: o custo do capital aumenta, o crédito fica mais restrito e os projetos de investimento exigem taxas de retorno mais altas para serem viáveis. Muitos empreendimentos, especialmente os de longo prazo ou com retorno incerto, acabam sendo adiados ou cancelados.
Agregamos a isso, que a taxa mínima de atratividade (TMA) utilizada pelas empresas em suas análises de viabilidade econômica é diretamente influenciada pela Selic. Com juros elevados, a TMA sobe, tornando menos atrativos os investimentos em inovação, expansão industrial e infraestrutura.
No entanto, apesar do ambiente macroeconômico adverso, os investimentos produtivos mostram sinais de recuperação em 2025. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede os investimentos em máquinas, equipamentos, construção e inovação, cresceu 9,1% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2024. Com isso, a taxa de investimento atingiu 17,8% do PIB, um avanço em relação aos 16,7% do ano anterior.
Esse crescimento é puxado, em grande parte, pelo setor de infraestrutura. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), estão previstos R$ 277,9 bilhões em investimentos no setor em 2025, sendo 72,2% provenientes da iniciativa privada. Os segmentos de energia elétrica, transportes e saneamento concentram os maiores aportes, impulsionados por concessões, marcos regulatórios mais estáveis e perspectivas de retorno de longo prazo.
Infelizmente, esse dinamismo não se estende a todos os setores. A indústria de transformação, por exemplo, ainda enfrenta dificuldades para retomar os investimentos em capacidade produtiva, diante da concorrência internacional, da carga tributária elevada e da volatilidade cambial. O setor de tecnologia e inovação, embora estratégico, também sofre com a escassez de crédito e a falta de incentivos consistentes.
Um dado positivo vem das empresas inovadoras. Segundo a Pesquisa de Inovação (Pintec), 49,1% das indústrias que investem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) pretendem aumentar seus aportes em 2025. Esse movimento reflete a percepção de que, mesmo em um ambiente de juros altos, a inovação é essencial para garantir competitividade, produtividade e diferenciação no mercado.
Empresas mais estruturadas, com acesso a capital próprio ou linhas de financiamento específicas, continuam apostando em transformação digital, automação e desenvolvimento de novos produtos. Contudo, para a maioria das pequenas e médias empresas, o ambiente macroeconômico ainda representa uma barreira significativa à inovação.
Para 2025 o produto interno bruto (PIB) brasileiro deve crescer 2,1%, segundo projeções do Banco Central. O desempenho deve ser puxado pela agropecuária, que deve crescer 6,5%, e pelos serviços, que continuam se beneficiando da recuperação do consumo e do turismo. A indústria, por sua vez, apresenta crescimento mais modesto, refletindo os desafios estruturais e conjunturais já mencionados.
No mercado de trabalho, os sinais são positivos. Mais de 1 milhão de empregos formais foram criados nos primeiros cinco meses do ano, elevando o estoque total para 48,2 milhões — o maior da série histórica. O desemprego caiu para 7,0%, o menor nível desde 2014. A maior parte das novas vagas foi gerada nos setores de serviços, construção e indústria, com destaque para jovens, mulheres e pessoas com ensino médio completo.
Esse dinamismo do mercado de trabalho tem contribuído para a sustentação da demanda interna, mas também pressiona os preços de serviços, alimentando a inflação.
Apesar dos avanços pontuais, o cenário econômico brasileiro ainda inspira cautela. A meu ver, os principais riscos para o segundo semestre de 2025 incluem:
Para mitigar esses riscos e destravar o potencial de crescimento, será fundamental que as expectativas inflacionárias voltem ao eixo, para que seja possível reduzir gradualmente a taxa de juros e promover reformas estruturais que aumentem a produtividade e a competitividade da economia brasileira.
O Brasil de 2025 vive um momento de transição. A inflação ainda não está sob controle, os juros permanecem em níveis historicamente altos e os investimentos produtivos enfrentam obstáculos relevantes. No entanto, há sinais de resiliência em setores estratégicos, como infraestrutura e inovação, além de um mercado de trabalho em recuperação.
O desafio agora é transformar essa recuperação pontual em um ciclo sustentável de crescimento. Para isso, será necessário alinhar a política monetária com uma estratégia fiscal responsável, ampliar os incentivos ao investimento privado e garantir um ambiente regulatório estável e previsível. Só assim o país poderá construir uma trajetória de desenvolvimento mais robusta, inclusiva e duradoura.