Economia

Números do PIB confirmam: a crise chegou para valer

Previsão de recessão em 2015 passou para patamar dos 2,5%; consumo das famílias cede junto com quedas históricas do investimento e da construção civil


	Operário da construção civil em São Paulo: setor teve queda histórica
 (Germano Lüders / EXAME)

Operário da construção civil em São Paulo: setor teve queda histórica (Germano Lüders / EXAME)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de agosto de 2015 às 11h38.

São Paulo - Os números da economia brasileira divulgados na manhã desta sexta-feira não dão margem para otimismo.

A queda de 1,9% do PIB no 2º trimestre em relação ao anterior foi mais forte do que estava sendo esperado por instituições financeiras (entre 1,4% e 1,8%).

Além disso, o próprio número do trimestre anterior foi revisado de uma queda de -0,2% para -0,7%. De acordo com economistas, isso puxa a expectativa de recessão em 2015 para o patamar de 2,5%, acima do 2,06% previsto no último Boletim Focus.

Chamaram a atenção a queda do consumo das famílias pelo segundo trimestre consecutivo e a queda de 11,9% nos investimentos na comparação anual, o maior tombo desde o primeiro trimestre de 1996.

"Você teve uma queda muito forte do consumo das famílias, o que a gente não constuma ver. Com o mercado de trabalho impactando em consumo cada vez mais e o investimento que já vem caindo faz tempo, não tem nenhum sinal de retomada. Infelizmente, as notícias devem continuar sendo bem negativas", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

A construção civil teve um recuo de 8,4%, o maior já registrado na série das contas trimestrais, e contribuiu sozinha com 0,4 ponto percentual na queda trimestral do PIB, de acordo com a LCA Consultores.

"A confluência de fatores negativos – impactos diretos e indiretos da Lava-Jato, corte de quase 40% dos investimentos públicos, término do boom da construção imobiliária residencial e comercial, dentre outros – ajuda a compreender resultado tão ruim", diz o relatório assinado por Bráulio Borges.

O consumo do governo continuou positivo em relação ao trimestre anterior (0,7%), mas caiu na comparação anual (1,1%) - e isso porque os efeitos do ajuste fiscal ainda não apareceram totalmente.

"Você estava no meio de uma desaceleração e aperta, espera que a economia vá crescer? No curto prazo, é isso mesmo. A gente resolveu fazer um ajuste recessivo, e isso inclui uma queda nos salários reais que nem começou direito no 1º semestre e vem mais forte no 2º semestre. A perspectiva para o terceiro trimestre ainda é sombria", diz André Perfeito, da Gradual Investimentos.

Os números de desemprego só estão subindo de forma mais acentuada agora: de 6,9% para 7,5% (últimos números da Pesquisa Mensal do Emprego) e de 7,9% para 8,3% (últimos números da PNAD Contínua). Isso deve continuar pressionando os salários para baixo.

Um respiro poderia estar vindo do setor externo, já que a queda do real torna os produtos brasileiros mais competitivos e os importados menos atrativos. E de fato, as exportações subiram 7,5% e as importações caíram 11,7% na comparação anual.

Mas a contribuição é mais baixa do que em períodos anteriores (como 2003) por causa de dois fatores: não é só o real que está depreciando, e a demanda do mundo não está ajudando.

"O mundo também tem taxas de câmbio em depreciação, e a nossa deveria depreciar ainda mais para ter algum efeito mais forte como no início de 2003, por exemplo, quando as exportações subiram 27%. Além do mais, você não tem o mundo crescendo como naquela época: pelo contrário, há desaceleração da China e crise na América Latina", diz Vale.

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