Economia

"Nuance" não é o forte dos economistas - e isso é bom, diz estudo

O papel de um bom acadêmico é incorporar as sutilezas em seus estudos, certo? Errado, segundo o artigo "Fuck Nuance"

Healy pesquisou a palavra “nuance” no banco de dados do Jstor (Thinkstock/Thinkstock)

Healy pesquisou a palavra “nuance” no banco de dados do Jstor (Thinkstock/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 15 de agosto de 2017 às 15h14.

Última atualização em 15 de agosto de 2017 às 15h49.

São Paulo - No dicionário Michaelis, o termo "nuance" é definido como uma "diferença sutil, quase imperceptível, entre coisas do mesmo gênero; matiz, sutileza".

O papel de um bom acadêmico é incorporar estas sutilezas em seus estudos, certo? Errado, segundo um artigo recente publicado no periódico da Associação Americana de Sociologia.

O autor é Kieran Healy, um sociólogo da Universidade Duke, que explicita sua posição no título: "Fuck Nuance", que pode ser traduzido (de forma suave) como "Dane-se a Nuance".

Sua crítica é que deixar algo mais "rico e sofisticado" muitas vezes significa abrir mão de analisar as relações entre os elementos, o que enfraquece o poder da teoria.

"Pensar em ideias convincentes e interessantes é difícil, então é muitas vezes mais fácil abraçar a complexidade do que cortar através dela", diz o texto.

Healy pesquisou a palavra "nuance" no banco de dados do Jstor,  jornal digital que reúne cópias de centenas de publicações acadêmicas, entre 1860 e 2013.

A conclusão foi que em termos absolutos, a palavra "nuance" vem aparecendo cada vez mais em todas as disciplinas, com forte aumento a partir dos anos 90.

Na sociologia, quase um quarto dos trabalhos tinham a palavra naquela década, perdendo só para a antropologia.

A filosofia tem altas taxas de "nuance" nas primeiras décadas do século XX, com queda nas décadas seguintes e retorno nos anos 80 para a tendência geral de alta.

O problema é menor no campo econômico, com base na análise de publicações como a American Economic Review, The Quarterly Journal of Economics e o The Journal of Political Economy.

A palavra também aparece mais em termos absolutos, mas é o último lugar (de longe) tanto em termos relativos (na comparação com outras disciplinas) quanto na comparação com a taxa base.

Healy atribui a ascensão das "nuances" no mundo acadêmico não apenas ao valor positivo que os pesquisadores atribuem a ela, mas também ao próprio ambiente institucional.

Ele diz que hoje há muito mais pessoas fazendo trabalhos acadêmicos e que ficou mais fácil mexer nas nuances de teorias antigas do que revolucioná-las.

Acompanhe tudo sobre:Teoria econômicaSociologia

Mais de Economia

Alckmin celebra corte de tarifas dos EUA, mas cobra fim da sobretaxa

Haddad cobra votação de projeto que pune devedor contumaz na Câmara

PIB cresce em todos os estados em 2023; Acre, MS e MT lideram avanço

Número dos que procuram emprego há 2 anos cai 17,8% em 2025, diz IBGE