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Novo consignado privado registra aumento de juros e amplia acesso ao crédito, diz BC

Valor médio do empréstimo caiu pela metade, mas taxa de juros subiu com perfil dos novos tomadores

Agência o Globo
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Publicado em 26 de setembro de 2025 às 07h58.

O valor médio do empréstimo no novo crédito consignado privado é cerca de metade do modelo anterior, enquanto o tomador médio apresenta renda e instrução mais baixas, trabalha em empresas menores e possui menos tempo no emprego.

As informações são de um estudo realizado pelo Banco Central sobre os primeiros meses de operação do "Crédito do Trabalhador", divulgado no Relatório de Política Monetária nesta quinta-feira.

As conclusões apontam que o aumento de juros registrado na modalidade desde o lançamento do novo formato pode estar ligado ao perfil dos clientes que estão pegando os empréstimos. Além disso, o BC observou que, em um primeiro momento, houve aumento do endividamento entre os tomadores do novo consignado privado.

Objetivo do Crédito do Trabalhador

O Crédito do Trabalhador foi lançado no fim de março com o objetivo de ampliar o acesso ao crédito para todos os empregados com carteira assinada. Antes, essa modalidade dependia de um convênio bilateral entre empregadores e bancos, limitando o acesso a trabalhadores de grandes empresas.

Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, as conclusões do estudo sinalizam que o perfil do tomador do novo crédito consignado possa explicar a elevação da taxa de juros média na modalidade após o lançamento do novo modelo. No geral, o juro médio passou de 40,9% ao ano em fevereiro, antes do novo formato, para 55,5% ao ano em julho.

“O tomador desse novo crédito é um trabalhador com menor instrução e renda, menos tempo de empresa e trabalhando em empresas de menor porte. As pessoas gostam de fazer comparação no número cheio, mas é importante olhar o perfil do tomador, sugerindo que talvez o perfil ajude a explicar a taxa de juros mais elevada”, afirmou Guillen em entrevista coletiva sobre o relatório.

Na análise do órgão, foram considerados apenas os contratos realizados com o par empregador-instituição financeira que não existiam antes do novo modelo, excluindo concessões para trabalhadores cujas empresas já tinham convênio com bancos (sistema antigo).

Dados sobre concessões e taxas

Os dados mostram que 3,0 milhões de pessoas tomaram crédito consignado privado entre março e julho, sendo que cerca de 2,3 milhões o fizeram por meio de contratos viabilizados pela nova legislação. As concessões atingiram R$ 21,9 bilhões, dos quais R$ 13,6 bilhões são referentes ao Crédito do Trabalhador.

Em relação à taxa de juros, as operações do novo consignado se mostraram mais caras do que os empréstimos consignados dos convênios, porém bem mais baratas que o crédito pessoal não consignado.

A média do novo consignado atingiu 58,0% ao ano (3,9% ao mês) nas operações contratadas até o final de julho, cerca de 60% da taxa de 106% ao ano (6,2% ao mês) cobrada em média no crédito pessoal não consignado. No mesmo período, a taxa média do consignado baseado em convênios existentes antes de março atingiu 36,2% ao ano (2,6% ao mês).

Além disso, o valor médio das concessões do novo modelo é cerca de metade do que era ofertado no sistema de convênios: R$ 5,8 bilhões contra R$ 11,3 bilhões. Considerando apenas modalidades de crédito com recursos livres, a taxa de endividamento no mês anterior à tomada do crédito dos tomadores do novo consignado é inferior à das operações usando convênios.

Impactos no acesso e endividamento

O BC conclui que os trabalhadores beneficiados pelo novo sistema têm menor acesso ao crédito, indicando que o Crédito do Trabalhador está ampliando essa oferta.

“Em conjunto com o fato de se depararem com taxas de juros mais elevadas, este pode ser um indicativo de que os trabalhadores beneficiados pelo novo consignado têm menor acesso ao crédito.”

Por outro lado, o endividamento dos tomadores do novo consignado privado aumentou após a contratação da modalidade, passando de R$ 18,4 bilhões em fevereiro para R$ 33,1 bilhões em julho — alta da taxa média de endividamento de 21,1% para 41%. Para o BC, isso indica papel limitado da substituição de dívidas existentes.

“Esse aumento no endividamento (R$ 14,7 bilhões) é inclusive superior ao montante concedido no novo consignado (R$ 13,6 bilhões), sugerindo que esses indivíduos tomaram crédito em outras modalidades além do consignado.”

O BC pondera ainda que indivíduos que contrataram o crédito podem já estar buscando empréstimos, e nesse caso, o acesso a uma modalidade mais barata tem efeito positivo no orçamento das famílias. Guillen também pregou cautela sobre avaliações definitivas:

“Agora parece ter tido aumento de endividamento, mas ainda é cedo para ter uma conclusão definitiva sobre o caso”, avaliou o diretor do BC.

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